Introdução
A miúda de lingerie não é para partilhar... Luís Hilário, não esqueci que nos havemos de encontrar algures para umas bjecas...manda-me um mail (ou o teu mail). Era fixe se fizéssemos algo em conjunto...
Serra, vê lá se vens á Jamaica e nos encontramos. Os outros estão todos convidados, claro. Tem sido difícil responder aos mails e mensagens queridas que têm posto no blog. Obrigado a todos. É porreiro receber feedback e comentários e recordar que continuam aí a olhar para cá...eu também olho para vós... Se não respondo ou contra-comento, não é por menosprezo - longe disso! É mesmo dificuldade em gerir o pouco tempo que passo em sítios com net...hoje, por exemplo, estou há 3 horas numa biblioteca para compor este post, responder a alguns mails, organizar fotos. Vida dura.
Grande abraço e beijos.
Cassiar Highway
11 de Agosto, o fogo engoliu a estrada…
Esta noite foi mal dormida. Ontem, ao sair da biblioteca, deparei-me com um cheiro terrível a fumo e fogo, o céu totalmente fechado pelas nuvens de fumo, sem sol, sem luz. Enfim, o cenário tenebroso e que me escureceu o espírito. Já sabia que há duas semanas havia fogo na Cassiar Hwy, mas há pouco quando passei no respectivo entroncamento, e mesmo durante o resto da tarde, aqui em Dawson, fiquei com a sensação que já deveria estar em fase de rescaldo, pois o céu era límpido e azul a sul…
Foi por isso que passei a noite em sobressalto…Como será amanhã? Estará totalmente fechada? Novos focos de incêndio? Devo prosseguir pela Alaska Hwy?
Como tinha de comprar gás e a loja só abria às 8h30, fiquei na sorna, a ver a luz do dia entrar de mansinho pela janela do quarto.
Pouco depois das 8h30 fazia-me aos 22 kms que me separavam do ramal com a Cassiar. Já sabia que o percurso ia ser difícil, especialmente pelo vento contra. Pedalei devagar e ao chegar ao destino da manhã, vejo uma fila infernal. Auto-caravanas, camiões, carros, pick-ups, motas e, no primeiro lugar da fila, o Jonh – o Américas! Lá estava ele inconfundível na sua barba ruiva e equipamento predominantemente em tons de laranja.
Tomei um café para aquecer primordialmente o espírito, embora estivesse frio àquela hora. Contrariamente ao cenário de ontem à tarde, o céu estava claro e não havia sinais significativos de fumo ou cheiro a fogo. Havia uma placa de sinalização dizendo que por causa dos incêndios o trânsito estava condicionado, mas nada mais. Era esperar... aproximei-me da “linha da frente”, encostei a bike no local possível, saco dos mapas, agenda, esferográfica e começo a elaborar umas notas. Nem meia hora tinha decorrido e há agitação na fila. Estava a chegar o primeiro “comboio” de veículos em sentido contrário ao nosso! Isso significava que a seguir iríamos nós. A minha expectativa era que alguém se condoesse e me oferecesse boleia, pois sabia que não deixavam circular bicicletas até passar a zona do incêndio. Nem foi preciso levantar o traseiro da pedra onde estava sentado. Apareceu uma mulher forte, como quase todas, jovem, com um ar de generala, muito dinâmica, com colete florescente, e diz-me para trazer a bicicleta para a carrinha dela, desmontar os sacos, por a bike na carroçaria e os alforges no banco de trás. O que teve piada, é que o Américas veio logo ter com ela, a esbracejar, dizendo que estava na mesma situação. Ela diz-lhe que só pode transportar um, para ele se dirigir à outra carrinha do controle de tráfego…deve ter engraçado comigo a rapariga, pois o gajo estava mesmo em primeiro na fila, com o aparato todo da bike, mas foi comigo que ela foi ter, chamar-me e até ajudou a pôr os alforges. Na verdade são muito simpáticos, profissionais e acima de tudo prestáveis.
A Dona – assim se chamava – é que comandava o “comboio”. Eram 84 veículos em fila, a atravessar uma zona devastada pelo incêndio que lavrou 14 dias. Desolador, o cheiro sobretudo.
Mas também a cor, as fumarolas, os pinheiros calcinados, uns de pé outros tombados, as cinzas. Mas sobretudo o cheiro…
Foram trinta e cinco kms de borla, pela Cassiar. Depois foi deixar passar o trânsito todo e pedalar no silêncio, por uma paisagem cada vez mais intimista. O vale por onde a estrada serpenteia é fechado, cavado entre montes não muito altos, densamente florestados. Pássaros cruzam a estrada em alvoroço, com a tranquilidade interrompida, dois caribous fogem aos saltos, desaparecendo na floresta, perdizes atravessam a estrada a correr.
Surge o French Creek, um ribeiro de águas verdes que atravessa a estrada. Poucos metros depois surge uma placa discreta, do lado esquerdo da estrada, indicando uma área de lazer/pic-nic. Volto atrás e enfio-me pelo meio da sobra dos pinheiros. Deparo-me com uma clareira de relva verde, várias mesas e duas toilettes, mesmo frente a ao French Creek, que aqui faz uma espécie de lago de águas verdes. Foi uma oportunidade que não perdi. Um almoço e um repouso capazes de devolverem a alma a um tronco queimado.
Continuei pela mesma paisagem e o mesmo silêncio. Daí a pouco paro para tirar mais uma foto e, ao arrancar, olho ocasionalmente para trás e lá vem o Américas. De tronco nu e a pedalar forte. Espero por ele e prosseguimos juntos alguns quilómetros a conversar. Mas definitivamente não quero ir ao ritmo de ninguém, quero ir ao meu ritmo. Não quero ir a fazer conversa com ninguém, quero o meu silêncio de volta. Não quero que me digam para onde olhar ou o que ver, quero olhar e descobrir o que o meu olhar descobrir.
Por isso despedimo-nos e ele já foi a 100 à hora…
Pouco depois surge a indicação do Boya lake e campground. Fica a 2 kms da estrada, ainda é cedo e quero fazer mais uma dúzia de quilómetros. Mas também não quero perder a oportunidade de ver o que é que o Boya lake tem para oferecer…Dirijo-mne para lá. São 2 kms a descer, por vezes acentuadamente, pelo que pagarei o preço no regresso…mas há preços que vale a pena pagar – e é para isso que aqui estou, para pagar o preço que for necessário para gozar a liberdade e cada momento. E o Boya lake não me desiludiu – foi até barato. Surge ao fundo de uma descida mais acentuada, escondido pelos pinheiros em todo o perímetro, com uma cadeia de montanhas ao fundo. Mas a água, a cor, ou melhor, as cores e os tons da água é que amarram a vista como a âncora do navio. São transparentes na beirinha, esmeralda a seguir, segue-se o sulfato de cobre e acabam no azul profundo do céu.
Dei a volta ao parque, percorri toda estrada, todos os lugares para acampar. Cheguei ao fim e como havia um percurso pedestre de 1,5 kms, encostei a bicla e fui caminhar – sabe bem caminhar depois de várias horas sentado a pedalar…
Muitas fotos… cada ângulo, cada recanto, cada reentrância, cada perspectiva são uma tentação para o dedo…mas é impossível captar esta sensação, este colorido, este silencia, esta êxtase…
Decido não acampar aqui. Seria delicioso acordar de caras com o lago, mas quero avançar mais uns kms hoje. Good Hpe lake deve distar dez ou quinze quilómetros e embora não tenha campismo, devo descobrir um belo recanto para pernoitar.
Agora o vale fecha totalmente, as montanhas crescem por todos os lados e parece não haver saída. O vento sopra forte e desfavorável. Mas está em desvantagem, pois o prazer está comigo…Primeiro surge o Mud lake, logo depois o Aeroplane lake e, finalmente, o Good Hope lake, seguido da “povoação” com o mesmo nome. Infelizmente feia, com muitos carros velhos amontoados. Felizmente é pequena e discreta…
E para acabar, é isso mesmo, logo após a povoação, onde termina também o lago, há um desvio para a esquerda.
É para lá que me dirijo. Rapidamente deixo esse desvio e infiltro-me na mata. Encontro o local sonhado mesmo “com os pés na água”. E o musgo abundante tornará a cama ainda mais macia...
Dia dos lagos, das montanhas e do silêncio
Jade City, Long lake, Twin lake, Simon lake, cotton lake, Elwod lake, Dease river, Dease lake, mais todos os anónimos que nem por isso são menos merecedores de surgirem no catálogo da Cassiari Hwy…
Hoje as fotos que tirei (ainda não sei quantas foram) falariam por si. Não por serem belas ou bem tiradas, mas a quantidade diria do entusiasmo que sentia ao virar de cada curva da estrada…
Os primeiros 20 kms foram duros, frios, predominantemente a subir e com vento contra. Parecia que ia ser um dia sofrido. Em Jade City, pouco mais que uma casa à beira da estrada que, fazendo jus ao nome do ponto que aparece apenas em alguns mapas, vende essencialmente objectos de adorno em jade, já se vê. A casa é grande e acolhedora, com muita luz e está repleta, sem ser claustrofóbica de objectos em jade. Brincos, anéis, os mais diversos animais, relógios, fios, colares, etc., a colecção parece interminável… Por mim, entrei mais interessado em comida e bebida. Atendeu-me uma miúda sorridente, que me perguntou de onde vinha. Quando lhe disse “de Inuvik”, logo ela completou: ah, com destino à Patagónia…parece que a malta que por aqui passa com partida de Inuvik, tem por destino a Patagónia. Perguntei-lhe se já lá tinha passado algum português, ao que me respondeu “não que me recorde”. Depois fiquei a saber que normalmente pensam fazer o percurso em 18 meses, o que é lógico, quanto mais não seja por causa das estações do ano. Também me disse que este ano só tinham passado 2 ou 3… Comprei uma espécie de batatas fritas com sabor a queijo, uma coca-cola (para levar) e um café com leite, que repeti (self-service de borla).
Continuei a pedalar e pouco depois surgiu uma série interminável de lagos, de um e outro lado da estrada, rodeados invariavelmente por pinheiros altos e verdejantes e por consecutivas cadeias montanhosas, fechadas e contorcidas formando um contínuo labirinto de onde parecia não haver saída. O sol raiava e já aquecia, especialmente nas subidas. Precisava sentir todo aquele silêncio, absorver toda aquela harmonia selvagem, grandiosa, esmagadora da pequenez humana. Tirei os óculos de sol, o capacete e mesmo a camisa. Queria estar totalmente desperto. Ver, cheirar, ouvir, sentir tudo sem barreiras, sem interferências. De quando em vez dava por mim a sorrir de alegria por estar ali, pertencer àquela paisagem naquele momento, por efémero que fosse. Queria guardar tudo eternamente em todos os sentidos. Apetecia-me parar, sentar-me e ficar indefinidamente em cada curva da estrada, em cada recanto que surgia ao meu olhar…Hoje estava a ser uma autêntica bebedeira para os sentidos e não eram tanto os lagos e as suas cores assombrosas. É a montanha que esmaga, com a sua imponência…Houve um momento em que parei na estrada para tirar uma foto. Olhei para trás (raramente olho para trás) e quase me apeteceu voltar para trás e repetir de novo. Enfim, quem sabe, faço isso quando a estrada acabar!!
A segunda metade do dia foi menos excitante. Era impossível manter a adrenalina e o encanto da manhã o dia todo. Após o Dease river a paisagem abriu, as montanhas diminuíram e afastaram-se, a estrada ficou mais suave e até o vento amainou. Passei a pedalar mais depressa e passei a achar possível chegar a Dease lake, acampando por aí…Seriam 140 kms, mas possíveis. O Dease lake lá surgiu: são cerca de 40 kms de extensão e é bastante largo. É demasiado grande para a minha lente, limitei-me a pedalar lado a lado. Aos 120 kms da jornada, surgiu uma subida de para aí 3 kms. Foi a primeira vez que senti o suor escorrer pelo rosto e pingar mesmo no nariz…também foi por essa altura que senti umas leves picadas no joelho esquerdo…acho que está a protestar…tenho de lhe dar mais atenção.
Cheguei á povoação de Dease lake, que fica numa ponta do lago, abasteci poucas coisas e procurei um local para acampar o mais perto possível. Surgiu cerca
de 5 kms depois, um caminho que levava a uma casa abandonada, mesmo junto ao rio. Como as portas e janelas estavam fechadas, armei a barraca no alpendre…tomei banho e
lavei a roupa no rio e comi framboesas do quintal…Ah!
e ultrapassei hoje os 2000 kms
De Dease lake a Iskut/tatogga lake
Apesar do céu completamente límpido e o sol já despontar, a temperatura está baixa e tenho de sair com o corta-vento vestido. Os primeiros 11 kms são sempre a subir…duros e demoro quase 1h15 minutos a percorrê-los, não tenho olhos, nem cabeça, nem alma para mais nada, só para o asfalto. Também é verdade que quando espalho o olhar, a paisagem não o prende…lá no topo aparece a indicação de Gnat pass sumit – 1241 metros. Agora conto que os próximos kms sejam a recuperar.
Pouco depois surge a recompensa: o Low Gnat lake, um lago que se estende pelo planalto, no sopé da montanha, com vários canais de erva verde e ainda uma pequena língua de terra branca – parece quase areia visto da margem. No lago passeiam patos. Outros estão imóveis na língua de areia. As cores são fortes, mesmo as das flores vermelhas que crescem anarquicamente nas bermas das estradas. Fico ali a repousar, a respirar, a reclamar a minha recompensa pelo “trabalho” já feito…
Continuo, passo pelo Uper Gnat lake e pouco depois pára no fim da descida um carro umas centenas de metros à minha frente. Adivinho facilmente ao que vai…o tipo sai do carro com máquina fotográfica em riste e começa a tirar-me fotos. Paro ao pé dele e diz-me com ar encantado e pronúncia alemã: é fantástico assim nesta imensidão da estrada e da paisagem uma pessoa de bicicleta…é tão contrastante… sem que lho sugerisse, pediu-me o mail e disse-me que me enviaria fotos.
Até ao Stikin river, não houve mais nada digno de nota, mas a meio da descida de 6 kms, com 7% de incinação, surge uma vista fabulosa do rio, correndo minúsculo esmagado pela imponência das montanhas que o rodeiam…pena a luz estar muito baça…Após a ponte há um pequeno retiro com toilette e uns painéis de informação. Tenho quase 50 kms, a sombra é óptima (o calor aperta) e é ali que almoço. O musgo é tão fofo que me estendo e só não adormeço por causa das moscas e principalmente os mosquitos.
Retomo a jornada e, está-se mesmo a ver, não é!? Uma subida daquelas de cortar a respiração…ainda por cima boa parte em “lose gravel” – ou rípio para os chilenos, não é Serra? Foram 7 kms, com inclinações de 8%, como se pode provar pela legenda…
Bom, a paisagem só voltou a arrepiar com a aproximação a Iskut. Regressaram as montanhas de contornos firmes e agressivos, perfurando as escassas nuvens com agressividade. Estendem-se por todo o lado e confundem o olhar e os sentidos. Iskut é pouco mais que uma placa com o nome, uma bomba de combustível e respectiva mercearia. Parei aí e embora ande sobrecarregado com comida, não deixei de reforçar a despensa. Aliás, até fiz uma asneira…na secção do leite, compro um litro com chocolate – era o último e mais dois ½ litros.
Compras feitas, sento-me na mesa exterior e emborco de um trago uma embalegem de meio litro, mas quando termino, o sabor não era o que esperava…olho melhor e eram natas!! Bem, já estava feito. Fui trocar a outra embalagem e a senhora ficou a olhar para mim com ar desconfiado: este deve ser tó-tó.
A seguir a Iskut estende-se um lago enorme que creio ter o mesmo nome. É fantástico este vale cerrado, cavado em montanhas enormes, áridas, de contornos agressivos e depois com o lago tão tranquilo, tão verdejante, espelhando toda a natureza que o rodeia. Pedalei devagar pela estrada em carrossel que troteia ao longo da margem…Surge ainda o lago Tatoggo e a partir daí, já com quase 100 kms feitos, começo à procura de um local para acampar. Acabou por surgir pouco depois, junto a um ribeiro. É quase sempre assim…há um lago ou ribeiro tranquilos nas imediações da estrada e é aí que armo a barraca, tomo o meu banho, preparo a jantarada e fico com vontade de verter para o papel o que recordo do dia…
De tanto ver, cheirar e sentir, o meu coração transborda
O Kinaskan lake anuncia-se suavemente na paisagem. Estende-se azul e tranquilo aos pés da montanha majestosa, ainda pintalgada pelos restos da neve que resistem ao sol. Pouco depois surge a indicação do Kinaskan Campground. Claro que eu não estava a pensar acampar nem pescar. Mas a curiosidade, a procura de alguma vista soberba sobre o lago e a montanha ou mesmo só a água fresca com que substituiria a que transportava, eram razões mais que suficientes para uma paragem.
Dirigi-me para a bomba de extracção de água, mesmo junto ao sítio nº 14, onde estava uma caravana e várias tendas. Dava à bomba, que fazia uma chiadeira metálica inapropriada para o local, quando uma jovem mulher com ar simpático e fresco, sorriso rasgado e olhar luminoso, me cumprimentou. Retribui com a minha maior simpatia e delicadeza e trinta segundos depois estava a ser convidado pela Wendy para tomar o pequeno-almoço com eles. Antes de eu dizer o que fosse, ainda meio embaraçado, e já ela concluía: vamos embora hoje, é o nosso último pequeno-almoço e temos imensa comida. Não podia recusar àquele olhar. A mesa estava de facto repleta! Antes de mais apresentou-me o Bob, presumo que marido, do Quebec (ela da da British Columbia), que logo me “apresentou” a bicicleta dele. É de estrada, uma Giant amarela, muito bem equipada e que pesa cerca de 8 kg! Trouxe-a para dar umas voltas, pois estavam ali acampados há uma semana – como fazem quase todos os anos – mas o piso este ano está bera, pelo que não andou. Faz ciclismo por lazer mas já participou em três provas este ano…Fizemos um brinde os dois com sumo de laranja natural.
Sentámo-nos para o pequeno-almoço e á mesa estava ainda o Matt e a Tany, dois jovens de menos de 30 anos. Fez-se silêncio, baixaram os olhos e o Bob agradeceu a Deus a comida, o dia, e o amigo português que se lhes juntou. Pediu a protecção e ajuda Dele para a viajem que ia fazer. E todos dissemos Ámen e começámos a atacar os ovos estrelados, o bacon, várias torradas, mais 2 copos de sumo de laranja, um iogurte e um café acabado de fazer pelo David, marido da Louise, e também amigo do grupo.
Ainda estava sentado à mesa a conversar como se de velhos amigos se tratasse e já a Wendy vinha com um cesto de fruta para eu levar! Nectarinas, laranjas, peras e mais uma caixa enorme de Blueberries. Estão mesmo a ver! Nem conseguia reagir…parecia a minha mãe a querer mandar-me tudo o que tem em casa, quando lá vou…Expliquei que não tinha espaço, que eram extraordinariamente simpáticos, mas não podia levar… Aceitei uma nectarina, deliciosa por sinal e disse que levava umas blueberries. O problema era onde. Bem, estava eu a sugerir o copo vazio do iogurte quando a Tany se levanta e me trás uma embalagem mais pequena (½ kg, para aí). Entretanto já quer o Matt quer o Bob tinham ido experimentar a minha bike pelo parque. Pareciam não acreditar que era possível transportar aquilo tudo…e o David contava-me entusiasmado que tinha conhecido uma alemã na Austrália, para aí há 30 anos (ele já anda nos sessenta e muitos), que já tinha feito a Nova Zelândia. Encontrou no deserto, para aí com 40 graus e um pneu rebentado. Quis dar-lhe boleia para a cidade mais próxima mas ela recusou: havia de se desenrascar…
Despedi-me com emoção do grupo e espero que o meu inglês tenha sido suficiente para lhes mostrar a minha gratidão e reconhecimento.
Durante muitos kms revivi aqueles momentos. Creio que não os esquecerei nunca…
Mas a jornada estava longe de estar terminada. A paisagem volta a dominar tudo. As montanhas, primeiro longínquas, com neve no topo, vão-se aproximando com o decorrer dos kms, vão mergulhando sobre a estrada, que é predominantemente a descer, vão-se fechando sobre mim. Parece que estou a entrar num caminho sem saída e sem retorno. Procuro quebrar a solidão do silêncio, trauteando as músicas que me vêm à memória. Mas é impossível. O silêncio é sempre mais forte, é intocável, intangível, invisível mas inescapável.
E de repente salta um urso preto da berma para o meio da floresta. Só o vejo de relance. Fico desesperado…mas 200 metros à frente, no fim da descida, está uma carrinha parada. Olho com mais atenção e está lá outro urso!! Tiro logo uma foto dali, vão vá escapar-me mais este, e começo a descer lentamente, não sem antes trocar nervosamente a lente da máquina para outra mais potente! Aproximo-me e o urso atravessa a estrada. Disparo de rajada…chega-se ao carro, cheira, e eu aproximo-me e continuo a disparar. Olha para mim, ainda estou a uns bons 30 metros mas penso no repelente anti-urso que está no alforge. Preparo-o e continuo a avançar de máquina em punho. Ele volta-se, desinteressa-se do carro e de mim, atravessa a estrada e pouco depois desaparece na floresta! Chego-me aos tipos do carro, dois jovens que têm como profissão vigilantes – da natureza, dos incêndios, das estradas, tudo.
Prossigo e ainda retenho mais um troço fabuloso de paisagem, ao longo do rio Ningunsaw. Ali é que parece mesmo que não há saída, que tenho de dar meia volta ou escalar as montanhas, mas claro que há…e a cada curva apetece-me tirar mais uma
foto…confirma-se que a jornada hoje foi fácil e a descer: aparece uma placa que diz: Ningunsaw Summit 466 m. Claro, ontem no Gnat summit estava a 1421 m…vamos ver quando for a subir para Jasper e Baff…
Black Bears
Nunca me tinha sentido assim atacado por um exército de moscas e mosquitos. Nem tomei o pequeno-almoço, apenas comi uma banana. Queria ver-me longe daquele local…
A estrada levava-me pela frescura da manhã. Uma pequena clareira na vegetação densa e um lago de patos nadando meio encolhidos. Tirei uma foto à montanha espelhada no lago e prossegui. Pouco depois surge uma “rest área”, também ela à beira de um lago, pois claro e tomei aí verdadeiramente o pequeno-almoço. Entre outras coisas, ataquei as blackbarries…
Com 17 kms percorridos surge Bell II, uma das tais zonas de repouso e abastecimento. Neste caso tinha parque de campismo, mas disso estava eu servido. Dirigi-me ao café, de interior ameno e maneirinho. O menu foi-me prontamente apresentado pela empregada solícita. Dei uma vista de olhos mas fiquei-me por um chocolate quente e um bolo. Os pequenos-almoços eram promissores mas tinha comido há pouco pelo que guardei os 10$ para depois.
Ás 10h já pedalava de tronco nu… o calor não era excessivo mas sabia bem pedalar assim. A estrada descia com suavidade mas quase continuamente, pelo que a média rondava os 19 kms. Só pensava quando chegaria a factura…Certo é que só parei para almoçar com 78 kms feitos. Acho que foi o meu recorde numa manhã – salvo seja, pois eram cerca de 14h…
Deslizava tranquilo quando um urso atravessa a estrada a correr, para aí vinte metros à minha frente, e se refugia na floresta. E este parecia ser dos grandes…mais uma oportunidade perdida!!
Mas felizmente hoje os ursos estavam do meu lado. Pouco depois, desta vez atempadamente vejam umas manchas negras lá bem adiante, na berma da estrada e nem queria acreditar: a serem ursos, eram vários… troco de imediato a objectiva e já não tinha dúvidas eram três – mãe e dois filhotes juvenis. Vou-me aproximando com todo o cuidado, máquina empunhada numa mão, guiador na outra e a deslizar o mais cuidadosa e silenciosamente possível. A mãe interrompeu a refeição, virou-se para mim, fez uma pausa e atravessou a estrada, ficando parada à espera dos filhotes que continuavam distraidamente a comer. Emitiu um ligeiro som a chamá-los e um respondeu de imediato juntando-se a ela. O outro continuava a comer (e eu a aproximar-me e sempre a disparar). A esta altura já estava próximo e ela encarava-me com atenção. Então tirei o repelente do alforge para o que desse e viesse e continuei a aproximar-me. Emitiu novo som impaciente e o outro júnior deu uma corrida, atravessou a estrada e desapareceram os três na floresta…
Estava ganho o dia se mais não houvesse para contar.
Tinha como objectivo chegar a Meziadine lake e acampar aí, desta vez num parque oficial. Chegado ao entroncamento da Cassiar com a 37ª, confirmei o que suspeitava: não existe nada aqui, Uns barracões e bomba de combustível desactivados. Nem hesitei…dirigi-me para o parque de campismo, por sinal perto da estrada. É muito pequeno, com as caravanas e os lugares para acampar muito próximos, praticamente cheio. Apesar de tudo, lá arranjei um sítio razoável e fui para o lago tomar uma banhoca (com shampoo e gel). E foi na água que travei conhecimento com a June, uma sexagenária com os olhos azuis da água do lago, o cabelo de neve das montanhas em frente e o sorriso melancólico e sereno do sol poente. Nasceu em Londres, veio fazer o mestrado para Vancouver há 45 anos e por cá ficou…está a viajar de férias com o filho Peter. Quando regressava à minha tenda, por casualidade ao lado da caravana deles, convidou-me para tomar algo com eles antes de jantar. Estou cada vez mais aberto e entusiasmado com conhecer e falar com as pessoas. Aceitei logo… e enquanto bebíamos a cerveja que me ofereceu, veio o convite para jantar, com toda a doçura. Aceitei também. Era massa com bolonhesa, uma salada e uma garrafa de tinto. A primeira palavra do jantar foi um brinde a…mim.
O jantar foi magnífico, repeti três vezes. É uma pessoa encantadora, que ama as montanhas (já esteve no campo base do Evareste), os rios (faz canoagem em autonomia, adora arte e história, pelo que vai à Europa com regularidade), mas volta sempre ao Canadá, à natureza que ama… Disse-me que o melhor momento da vida dela foi aquele anúncio em Londres que dizia “faz o master na British Columbia”…
E black bear
Hoje poupo-vos: há pouco para contar – ou então estou a perder a vontade de me confessar... O dia resume-se em três parágrafos – ou talvez mais.
Despedi-me nos meus amigos de Vancouver e a June pediu-me para tirar uma foto junto com o filho. Aproveitei e tirei também uma com ela. Com a mesma simpatia de ontem e o mesmo olhar, disse-me que se alguma vez passasse em Vancouver era convidado dela, pois tinham uma casa enorme.
A estrada, hoje mais do que em qualquer outro dia, era formidável para os meus amigos que pretensamente gostam de ciclar. Digo pretensamente porque a maioria deles o que gosta é de descer. E eu acho que quem gosta realmente de andar de bicicleta, gosta (também) de subir, de sentir as pernas a ganharem o ritmo e a imporem aquela cadência, o corpo a aquecer, a temperatura a subir, o suor a gotejar e a montanha cada vez mais ali ao nosso nível, a vergar-se à nossa vontade e determinação, ver os metros a passarem devagar mas inexoravelmente, sem retorno, e por fim ver o declive a diminuir, ver que não há mais para subir e que vencemos mais uma vez. Só quem retira prazer das subidas é que sabe o que é saborear uma vitória e só esses é que verdadeiramente gostam de ciclar… pois hoje não era dia para esses, era para todos os outros! O vento esteve sempre a soprar pelas costas e praticamente sempre a descer (o plano com vento favorável é descida, tal como com o vento contra se transforma em subida). Foi por isso que fiz 140 kms à média de 19,4 km/h…
Ainda assim consegui ver um urso preto não antes que me visse a mim, nem antes que se refugiasse na vegetação. Pareceu-me um grande urso preto, só. E por isso decidi fazer-lhe uma espera. Fiquei ali à coca e daí a alguns minutos vejo os arbustos agitarem-se com violência e ouço o barulho dele. Estava a poucos metros mas invisível. Esperei e fui brindado com um excelente momento, incluindo o gajo a babar-se e a fungar!! Foi uma série de fotos e adrenalina – por exemplo, esqueci-me completamente do repelente.
E os kms passavam tão depressa que se não me cuido ainda chegava hoje à patagónia, o que não dá jeito por não estar no contrato! A sério, já ia lançado para chegar a Kitwanga (faltavam 20 kms e pouco passava das 5 horas) quando vejo uma informação na estrada a dizer: Gitanyow aldeia histórica. Pressenti que era perto e dirigi-me para lá. A aldeia em si é feia como a generalidade: um conjunto de casas de um e outro lado da estrada, com telhados de metal e sem qualquer marca distintiva, nem sequer cuidadas (algum lixo e sujas). O interesse histórico advém dum vasto conjunto de tótemes dispostos numa vasta área frente ao museu (fechado). Como o rio passava ao lado de um parque de merendas rústico e havia um café mesmo nas imediações, decidi que era um bom sítio para acampar. Depois de fazer algumas compras, perguntei à empregada se podia acampar por ali. Acabei mais uma vez a lavar a roupa e tomar banho no rio...
Adeus Cassiar Hwy. Olá Yellowhead Hwy.
Com a maresia que caiu durante a noite, acordei com a tenda toda molhada por fora e com a roupa que lavei ontem mais molhada do que ao pendurá-la. Assim sendo, fui deixando o tempo correr, o sol erguer-se acima da montanha e esperar que pelo menos a tenda secasse.
Tomei um bom pequeno-almoço, com o café/shopp ali perto, está-se mesmo a ver que comi realmente que nem um alarve. Só leite, entre as 6h de ontem e as 9h da manhã, foram 3,5 litros…
Fiz-me aos 20 kms que faltavam para o fim da Cassiar mas como parti mais tarde e fui pedalando devagar, parando aqui e ali, apesar de não recordar grandes motivos de interesse, o certo é que só lá para as 11h30 é que cheguei ao fim da estrada, em Kitwanga, cujo único motivo de interesse que vislumbrei foi um “museu” ao ar livre dedicado a equipamentos agrícolas do início do século XX.
Os primeiros kms da Yellowhead são paralelos ao longo Skeena river, de águas cor de esmeralda. Do outro lado do rio estende-se a linha de comboio entre Prince Rupper e Prince George. É uma estrada completamente diferente das anteriores, com muito mais tráfego, bastantes camiões, com faixas separadas. Enfim, nota-se que estamos noutro registo…Mesmo sem a paisagem perder interesse, certo é que perdeu parte do encanto, aquele que só se sente no silêncio…Parei no Seely lake Campgrond, onde almocei junto ao lago. E enquanto preparava o meu repasto de sardinhas de conserva, pão, bolachas e passas de uva, chega uma família com as toalhas: iam tomar banho no lago (fazia parte do anúncio) e vejo o tipo de telemóvel na mão… lá está, mais um sinal de regresso à civilização – e tenho de reconhecer que lá testei o meu, que ainda tem a carga com que veio de Lisboa, há quase um mês, e funcionou… acabou-se a incomunicabilidade – salvo seja, que desliguei-o de seguida…
Depois do repasto, como estava um calor mesmo convidativo, decidi juntar-me aos poucos banhistas e também eu aproveitar o lago tranquilo – não tenho cá a Costa da Caparica mas também hei-de ter o meu banho de Agosto…Uma sesta na relva aquecida pelo sol e só bem mais tarde voltei à estrada…
A estrada prossegue com subidas e descidas, ainda que não acentuadas, mas hoje definitivamente não era um dia para correr…até porque andam para aqui uns joelhos a queixarem-se. Ainda não percebi se é bluff ou a sério, mas não quis forçar…Assim sendo, dobrados os 110 kms decidi rumar para o parque de campismo de Moricetown e mesmo na ponte à saída da estrada deparo-me com um casal de jovens suíços, o Lukas e a Rebecca, que iam para o parque também. Decidimos ir juntos e partilhar – ideia deles – o preço.
São muito simpáticos, vem do Alasca, onde começaram a pedalar há um mês e vão viajar de bicicleta 10 meses. Chegados ao parque, propuseram-me jantarmos juntos. Aceitei e logo começaram a preparar o jantar: massa com um guisado de vegetais. Parece que conheceram um casal de alemães que tiveram de interromper as férias. Como tinham montes de comida, deram-lhes alguma. E como agora vão de carro (amigos que já fizeram por cá…) para Jasper, não precisam deste tipo de comida nos próximos 5 dias…
Até Prince George.
Bonito passeio o teu BACALHAU: lindas paisagens, novos amigos,SILÊNCIO, natureza, ursos... estás no teu habitat! e ... nós os "todos" a acompanhar-te ao longe.
ResponderEliminarEsta semana os Bacalhaus brindaram-te com ALMA.
Parabéns Idílio pelos momentos únicos que nos tens permitido.Sentimos que andas feliz,e isso é o mais importante.Continua e todos ficaremos mais ricos.Até os ursos te vão visitar.O SOS Está atento.O SLB e o SCP perderam,e nem a águia voou...
ResponderEliminarAbração.
Rui Remígio
Pronto, Ok, não haverá a miúda de lingerie. Conformar-me-ei.
ResponderEliminarDefinitivamente o melhor relato até agora, quanto mais não seja pela quantidade de ursos que finalmente conheceste. Até eu senti a adrenalina do disparo da câmera sem repelente à mão...Continuo a agradecer o texto de 1ª e as fotos já intercaladas que contribuem para o prazer da leitura. Acima de tudo gosto desse teu espírito zen de descoberta da natureza: "...quero o meu silêncio de volta. Não quero que me digam para onde olhar ou o que ver, quero olhar e ver o que o meu olhar descobrir."
ResponderEliminarDesejo que esse silêncio prazeiroso te acompanhe sempre...tudo o resto é secundário.
'Queria guardar tudo eternamente em todos os sentidos'. A viagem a tornar-te cada vez mais poético e aberto às almas viajantes, Idílio. Muito bonito. É quase como se estivéssemos também aí. bjinho.
ResponderEliminarSusana
Só falta uma fotografia com o cachecol certo. Se quiseres envio-te um.
ResponderEliminarMuitos beijinhos,
Mariana
foi tão bom ouvir-te
ResponderEliminarIdílio, cuidado que esta notícia é a sério
ResponderEliminarCanadá: Ursos guardavam plantação de marijuana
A polícia canadiana descobriu uma plantação de marijuana num bosque do Canadá, a 550 quilómetros de Vancouver, que era guardada por dez ursos negros domesticados propositadamente para que ninguém estranho se aproximasse do local.
Os dez ursos, de acordo com a polícia, eram alimentados com comida para cão e vegetais. De início, os agentes mantiveram a distância, mas depois perceberam que os animais eram inofensivos.
«Os agentes deram-se conta de que os ursos eram dóceis e estavam domesticados. Um deles saltou para cima do nosso carro», declarou o sargento, citado pela cadeia CBC.
Cerca de 250 mil pessoas vivem da plantação de droga na região.
Mariana, o Idílio tem o cachecol certo e das poucas sugestões que lhe fiz só lamento que também não leve uma imagem da Senhora de Fátima
ResponderEliminarOs teus relatos estão cada vez mais interessantes e agora que, finalmente, colocas as fotos no sítio certo, ficaram ainda mais ricos. Quase que se consegue respirar essa liberdade fantástica que estás a exercitar. Continua, dá muita atenção aos joelhos e tem CUIDADO com os ursos.
ResponderEliminarAbraço
PS: este é o segundo post de hoje porque o primeiro foi parar ao twilight zone
(Agência Royters)
ResponderEliminarNational Geographic reclama pelo uso abusivo das suas fotografias
A National Geographic decidiu processar judicialmente todos os bloguistas que pirateiam fotografias da organização. Segundo um comunicado da NG, é uma prática cada vez mais comum cibernautas publicarem nas suas páginas pessoais e nos seus blogues fotografias ‘roubadas’ à National Geographic, apresentando-as como suas.
“Ursos, leões, crocodilos, hipopótamos, borboletas, e quase todas as espécies animais” segundo Steven Donovan, porta-voz da National Geographic, “são apresentados em blogues ou em páginas pessoais de redes sociais sem identificarem o autor da fotografia”. Ou então, em casos mais graves, fingindo ser do próprio autor da página de internet, o que constitui um crime. Até agora a organização tem tolerado a situação, mas face à crescente onda de apropriação de fotografias, principalmente de ursos, a NG resolveu começar a actuar judicialmente.
“Está em causa o pagamento dos direitos comerciais das fotografias à National Geographic, e dos direitos de autor aos verdadeiros fotógrafos”, refere Donovan uma vez que “a organização incorre em custos elevadíssimos para conseguir as fotografias que publica” e tem que ser devidamente compensada.
belíssimo. lindo, lindo, lindo! - Marina
ResponderEliminarCada vez melhor.Belas fotos e descrições.Força.O repelente para "urssos" é mais necessário para estes lados.
ResponderEliminarDurães
Há alguns dias que acompanho a tua enorme aventura e sinto alguma "inveja", pois não me importaria nada estar nessa aventura. :) Espero que consigas ultrapassar todas as dificuldades e que nos continues a brindar com os teus relatos e fotos.
ResponderEliminarUm grande abraço,
Ricardo Martins