segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

El Salvador e Honduras

A minha passagem por El Salvador foi praticamente “directa”, seguindo a estrada panamericana, sem procurar sítios que façam parte do roteiro turístico. Mas a verdade é que as poucas atracções turísticas que tive oportunidade de visitar, não me despertaram entusiasmo, muito menos fascínio. Apenas as ruínas de Joya de Cerén, património da Unesco, perto de San Salvador, têm interesse histórico. O sítio arqueológico mostra um pequeno conjunto habitacional, soterrado por diversas erupções vulcânicas no fim do século VI e recentemente descoberto.
A fronteira de Valle Nuevo-Las Chinamas, entre a Guatemala e El Salvador, é definida pelo rio Paz.

Fronteira Guatemala-Salvador

A tarde vai a meio e a descida para o rio mostra um horizonte tendencialmente plano, onde domina o cónico vulcão Chingo. O posto fronteiriço guatemalteco fica imediatamente antes da ponte e o movimento de carros e pessoas é residual. Uma centena de metros antes do edifício, meia dúzia de jovens erguem-se na modorra quente do sol impiedoso e dirigem-se-me, excessivamente excitados. Trazem na mão os habituais maços de notas, um deles, uma calculadora e vários apenas fazem ruído, anunciando o câmbio.
A moeda corrente em El Salvador é o U$ dólar e, como habitual, não sei se tenho de pagar alguma taxa para entrar no país. Os “meus” cambistas dizem-me que não e oferecem-me 1U$=8,09 quetzais. Parece-me um câmbio razoável, pois 1€=10,4 quetzais. Rebusco os quetzais da carteira, sempre rodeado por excesso de alarido, e contabilizo 690. Rapidamente o tipo da calculadora faz a conta, e aponta o mostrador com 43 dólares, que o cambista me passa para as mãos. Digo-lhe que a conta tem de estar errada e o alarido aumenta. Mando-os calar, para fazer a conta sem calculadora. Mas já o “calculadoras” me aponta o mostrador e escreve, 690/8,09=53. Afinal estava mesmo errada a conta!! Enquanto o cambista me passa mais dez dólares para a mão, um terceiro jovem do grupo adianta-se, para me conduzir “rapidamente ao guichet especifico”. Sempre a fazer perguntas, dar explicações inúteis, “obrigando-me” constantemente a alimentar o diálogo. Já era o meu guia pessoal, sem que eu tivesse de lhe pagar nada, por pura preocupação com a imagem e simpatia guatemalteca, dizia o intrujão. Apoio a bicicleta no descanso e quase sou “empurrado” para a porta e o guichet das saídas, onde não há ninguém, sob a garantia de que toma conta da bicicleta. Já estava mais que irritado com a solicitude e presença do miúdo, mas lá o tolerei, ficando aliviado quando entrei na sala e me vi livre dele. Como não havia ninguém na fila, fui imediatamente atendido e quando saí confirmei que o tipo já tinha desaparecido, o que me agradou, pois estava farto dele.
Atravessei a pequena ponte, contornei o edifício salvadorenho e entrei na porta indicada, onde não havia uma única pessoa. O simpático empregado recebeu o passaporte, perguntou-me de onde vinha e para onde ia, pôs o carimbo, escreveu algo e devolveu-mo, dizendo que o visto obtido na Guatemala, válido por 90 dias, me permite o acesso a todos os países da América Central. De facto, quando vi o carimbo de El Salvador, tinha escrito: “a petición de usuário”.
Só depois de regressar à estrada é que voltei a pensar na cena do câmbio, em que nada batia certo. Ou melhor, tudo batia certo: a confusão criada à minha volta, a calculadora que dava resultados diferentes para os “mesmos números”, o rapazote a conduzir-me sob grande alarido e verborreia até à alfândega, mas desaparecendo mal entrei lá dentro… Enfim, ri-me durante muitos quilómetros a recriar a cena em que tinha caído que nem um patinho. Ok, Zé Luís, já sabes que estou “programado” para fazer contas com mais de 10 dígitos…estas contas pequenas parecem-me uma inutilidade. Além do mais, na fronteira da Guatemala tinha prometido a mim próprio não regatear mais os câmbios. Mas uma coisa é regatear câmbio, outra é deixar-me levar, como um analfabeto. A compensação é que assim ficava com uma estória para contar e prolongado motivo de riso, por apenas U$30.
Após a fronteira, a estrada sobe paulatinamente durante uma dezena de quilómetros. Não há aglomerados de habitações, mas apenas algumas casas dispersas ladeiam a estrada. Curiosamente, enquanto umas parecem ser quase “luxuosas”, mesmo com paredes pintadas, outras são inacreditavelmente miseráveis – um bloco de doze metros quadrados, com muros de adobe que deixam à vista os paus que suportam a terra, cobertura de lata e uma porta onde se arrima um conjunto de ramos atados por um atilho. Uma mãe resgata, duma pequena elevação, um miúdo nu, da cor da terra onde gatinha.
Vencida a subida, e maugrado o calor intenso, os 25 kms até Ahuachapán, o meu destino imediato, passam rapidamente.

Ahuachapán

Fui dar por acaso ao hotel casa blanca – uma casa de estilo colonial, pintada de branco, claro, com um bonito e pacato jardim interior, quartos grandes e confortáveis. Os US$29,5 pareceram-me excessivos, mas era um luxo de ano-novo. Alem da estranha sensação de utilizar U$ dólares como moeda corrente num país da América Central, também a presença de vários bancos “ocidentais”, entre eles o City Bank, me pareceu algo “deslocado”. Mas afinal era só o princípio, pois nos escassos dias que passei em El Salvador, principalmente em San Salvador, a presença dos maiores “símbolos” de consumo, e consumismo, americanos, foram-se intensificando.
Não deixa de ser irónico que “todos” os países da América Central tenham vivido, recentemente, períodos revolucionários, visando, directa ou indirectamente, o inimigo Tio Sam, e hoje lhes “caiam nos braços”, adoptando inclusivamente a própria moeda…

Auchapán

No jardim da praça central de Ahuacapán, frente à catedral, o José Cifrão, um salvadorenho de cinquenta anos, bem constituído, bem parecido, bom comunicador e de bíblia discretamente na mão, meteu conversa comigo. Talvez tenhamos passado mais de duas horas a discutir os “males do mundo” e da América Central em particular. E o balanço final é: um ódio de morte aos EU e aos colonizadores/saqueadores espanhóis, admiração ilimitada pelo Chavez, uma enorme esperança no Brasil, curiosamente como benemérito, desconfiança total nos governantes “que apropriam a parte de leão da ajuda internacional”, que “apenas alimenta a oligarquia” e mantém os países na mesma miséria de há séculos…
O que mais me impressionou da longa conversa, foi o ódio e a descrença…a minha convicção, cada dia mais profunda, é que a “principal causa” da pobreza em que vivem persistentemente 4/5 da população mundial, em modernos sistemas de escravatura, produzindo, de borla, os bens que esbanjamos quotidianamente, são os “termos de troca”, que o abençoado “mercado” generosamente pondera a favor dos ricos. O exemplo do café é algo que trago atravessado na cabeça e na alma…como é possível que o preço do café, todo ele produzido em países paupérrimos, por agricultores que vivem em condições desumanas há séculos, esteja a ser transaccionado por um “preço de mercado”. Que mercado é esse, que define que eu possa tomar um café em Lisboa por 0,50€, e o produtor desse café morra literalmente de fome na Guatemala, em El Salvador, na Colômbia, Brasil, Timor, Quénia, etc.. O “preço de mercado” tem de garantir que o produtor e consumidor vivem condignamente…a voz do produtor não se houve acima do cafeeiro; o seu olhar nunca foi além da montanha onde nasceu e onde morre todos os dias; os seus pés descalços, apenas conhecem o carreiro para subir e descer cerros a pique, vergados sob a fome, a miséria e a pobreza absoluta, trazendo às costas os preciosos grãos de café, que nos chegam à mesa em chávenas fumegantes a “preço de mercado”. E mesmo o camião que passa e leva o café, a troco de uma mão vazia de quetzais, é escuro, sujo, decadente, ruidoso, ameaçando desmembrar-se em qualquer curva da estrada…O mercado, esse está literalmente a séculos de distância, não tem rosto, não tem família, não come nem bebe, não tem sentimentos, nem emoções. Ninguém o vê, ninguém o conhece, mas sabe-se que está sempre presente e que, como um Deus, tudo explica, tudo sabe e tudo resolve – sabiamente, já se vê…

Sem romantismo

O caminho para Santa Ana é totalmente desinteressante e limitei-me a pedalar. Ia direccionado ao hotel libertad mas um quarteirão antes surgiu o “la casita” e decidi averiguar. Havia um quarto por $12 e outros a $10. O hotel era muito básico e pobre, mas já estou habituado ao género, e como o miúdo responsável – trabalhador estudante – era muito simpático, decidi ficar. O problema é que só pelas 17 horas (ainda não eram duas…) podia ocupar o quarto. Lá arrumei a tralha num beco e, mesmo com roupa de ciclista, suada e desconfortável, fui deambular pela cidade. Rapidamente confirmei a total ausência de interesse, onde apenas a praça central merece uma vista de olhos, e enfiei-me num ciber-café. Não aguentei muito tempo, pois localizava-se junto a uma paragem de autocarros que, ao arrancarem, enchiam literalmente a sala com o fumo negro e nauseabundo do escape…
Voltei ao hotel um pouco antes das 5 e só então percebi a razão de apenas poder ocupar o quarto após as 5 horas…é que a utilização diurna era de curta duração…na escassa hora que esperei, foi um rodopiar de entradas e saídas. Só esperava que ao menos o miúdo mudasse a porra dos lençóis. Mas, pelo sim pelo não, voltei a dormir no saco cama…


San Salvador pode esperar...

A estrada de Santa Ana para San Salvador é monótona e desinteressante. Algumas dezenas de quilómetros antes da capital, há um desvio para Joya de Cerén, o único património do país que faz parte da lista classificada pela UNESCO. Por falta de qualquer referência convincente a sítios “imperdíveis” no país, decidi fazer o pequeno desvio e visitar o local. Trata-se de um pequeno conjunto arqueológico, mostrando uma aldeia soterrada por cinzas e lava vulcânica, no século VI e descoberta, acidentalmente, na década de 70.

Olhares tuti-fruti

O pequeno museu tem uma mostra de artefactos usados à época, com elegantes peças de cerâmica muito bem preservadas.
A aproximação a San Salvador é particularmente desagradável devido à poluição, que se acentua ao longo da grande subida que antecede Santa Tecla – a cidade subúrbio de San Salvador.
Apesar do intenso tráfico, raramente sinto alguma dificuldade ou insegurança no trajecto para o centro da cidade. Na verdade as informações que me foram chegando sobre a “terrível” San Salvador, criaram-me algum receio e preconceito. Mas resisti às recomendações de me alojar na zona nova da cidade e evitar o centro histórico. E assim fui deixando para trás zonas mais verdes, ruas mais desafogadas, trânsito mais ordenado, prédios mais altos, mais coloridos e mais limpos, os cheiros mais comuns da circulação automóvel, transeuntes mais jovens e mais ocidentalizados, para me embrenhar na caótica calle Rúben Darío. As tendas ultrapassam largamente o passeio e estendem-se pela rua; os autocarros urbanos, velhíssimos e decrépitos, avançam aos solavancos, por entre as habituais nuvens de fumo e algazarra das buzinas; os táxis, “acotovelam-se” para tentar furar e passar à frente uns dos outros; as bicicletas saltam do meio das tendas para a estrada, atravessam-se à frente dos táxis, sobem por qualquer nesga de passeio e, por vezes, vão mesmo às costas; carretas de madeira, repletas de tomates, fruta, vegetais ou bugigangas várias, param em qualquer local em que surja uma oportunidade de negócio e contorcem-se para conseguirem prosseguir, conduzidas por furiosos pregoeiros. A imagem tem tanto de dantesco, quanto de harmonioso, em que tudo parece obedecer a uma superior desordem à beira do caos, sem nunca o atingir.

A História segue dentro de momentos...

Confesso que a mistura de sons, em que os pregões nada ficam a dever às buzinas, dos cheiros e o movimento anárquico dos vários transportes, me fizeram transpirar e desejar sair rapidamente dali. Mas estava literalmente no meio de uma corrente da qual da qual era impossível sair, pois as perpendiculares eram exactamente iguais…
Foi com inusitado alívio que cheguei à Catedral e regozijei com o facto de a frente estar “vedada” a toda actividade. Na verdade, a própria Catedral está ocupada, há 16 dias, pela associação de veteranos da Frente Farabundo Marti…Pude respirar, consultar o meu guia, orientar-me e retomar o rumo para o Hotel Internacional Custódio, a três tenebrosos quarteirões…
Ainda acreditava que San Salvador me cativaria depois do choque inicial, tendo aceite a generosa promoção: 3 noites por $20, em vez dos normais $8 por noite. Na verdade, estava ciente de que ficaria apenas 2 noites, pelo que o desconto de $4 na verdade ia transformar-se num acréscimo de $4, mas não me apeteceu decepcionar a entusiasta proprietária, que me perguntou se não era muito barato o preço que me estava a propor…
Saí do hotel directamente para o centro histórico da cidade, ou seja, para o meio do caos…Apesar de haver um quarteirão específico para o mercado, a verdade é que “o mercado” está por todo o lado: ruidoso, escuro, sujo, pegajoso, mal-cheiroso, desordenado, repleto de detritos, restos de legumes e frutas, plásticos. E pregões! Levei algum tempo até perceber o preço dos tomates, sem dúvida o mais anunciado e vendido: “5 tomates, a cora”, gritam. Só bem depois percebi que a “cora” é “quarter”! Também foi aqui que me confrontei pela primeira vez com a água empacotada, em vez de engarrafada…vende-se em pacotes de ½ litro, trinca-se um bico e já está: é só chupar…e esquecer onde esteve o saco, por que mãos ou locais passou.
A pequena Plaza Barrios e o Parque Libertad permitem ver com alguma tranquilidade o que falta ver desta sociedade salvadorenha: pobreza, miséria, pedintes, amputados, sem abrigo literalmente nus, deitados, inertes, no meio de um qualquer passeios que cruza a praça…num banco de jardim a “dois metros”, come-se um gelado, namora-se, lê-se um jornal ou mesmo um livro, ou toca-se guitarra. Aqui, o “mercado” não exclui ninguém, pelo menos enquanto não se pagar para estar no jardim…
Sem grande vontade para jantar, ingeri uma piza no único local com ambiente tranquilo e arejado que descortinei…

Muros da história

Muros de hoje

Pela manhã, as ruas ainda desertas, deixavam mais a nu os restos de frutas e legumes, espalhados por todo o lado, a cidade sombria e suja, as bancas de madeira parcialmente “recolhidas”. Fui caminhando no sentido oposto ao percurso de ontem, vendo a cidade acordar. No parque Cuscatlán, procurava o “monumento a la memoria y la verdad”, um mural impressionante onde estão lavrados os nomes de 30 000 (trinta mil!) mortos e desaparecidos. Diz a própria inscrição que faltam milhares de vítimas civis, desconhecidas… Na “sala nacional de exposições” conheci uma impressionante exposição do Antonio Bonilla. Uma enorme carga de sarcasmo, ironia, provocação, incidindo sobre a guerra, o sexo e as misérias sociais…
O “museo da la palabra y la imagen”, decepcionou-me pela exiguidade…esperava uma vasta, e comprometida, exposição sobre a guerra civil, mas apenas existe um pequeno conjunto de fotografias sobre a guerra e, principalmente, sobre a “rádio venceremos”… a rádio da guerrilha.
Cá fora, nas ruas novas de San Salvador, o american way of life expande-se confortavelmente. Centros comerciais, cinemas, filmes, cadeias alimentar, moda jovem…Há muitas formas de matar moscas, excepto com vinagre…
Dizia-me o meu anfitrião, Victor, hondurenho, engenheiro mecânico de aviões, semi-activo, proprietário do Hotel Internacional Custódio, que a juntar a todos os males visíveis na sociedade salvadorenha, há que somar a crispação, o confronto, violência, que permanecem enraizados nos homens e mulheres de El Salvador…pareceu-me ver uma notícia num jornal do dia 4 de Janeiro, anunciando vinte e tal assassinatos desde o início do ano…

Sem escolha

Entrei nas Honduras pela fronteira de El Amatilho. Inicialmente tinha pensado entrar por El Poy, na zona central de El Salvador e dirigir-me a norte, para visitar as ruínas Maias de Copán. Mas a falta de interesse que me despertou o país e a suspeição que as Honduras não difeririam muito, levou-me a seguir “o caminho mais curto” para o Ushuaia…

Muros vagos

A principal diferença, que me saltou à vista mal cruzei a fronteira, é a habitação. As casas guatemaltecas têm telhados de telha de canudo e paredes pintadas, para além de enormes estendais de roupa a secar…também me surpreendeu a quantidade de casas em que se percebia não haver homem, apenas mulher, normalmente jovem, e filhos pequenos. Afinal, é o resultado da pesada emigração…

Máscaras

Out of size

Nacaome é a primeira povoação pós-fronteira com alguma dimensão e onde havia hotel. Depois de me alojar no hotel palmeiras, por sinal sem qualquer indicação, fui fazer uma curta exploração à cidade. No pavilhão municipal anunciavam-se as meias-finais do tornei de futebol salão. Depois de jantar, o ruído no pavilhão já se sobrepunha aos alaridos dos miúdos que brincam no jardim contíguo. Paguei as 15 lampiras do bilhete e sentei-me no pavilhão quase repleto de malta jovem.

Quinas

O primeiro jogo estava mesmo a começar e de repente a minha atenção foi cativada pelo equipamento vermelho escuro de um jovem jogador, mesmo à minha frente. Raios me partam se aquilo não são as “quinas”. Claro que é o equipamento da selecção portuguesa! Mas não é só ele, toda a equipa veste o equipamento das quinas. Um tem mesmo o nome “Nani” nas costas! Que coincidência!! Levanto-me, contorno o recinto e vou ter com o “banco de suplentes”, para saber que estória era aquela de estarem a jogar com o equipamento da equipa portuguesa…pensei que tivesse sido uma oferta da embaixada, cônsul ou coisa do género, mas afinal foram os miúdos que o compraram e pagaram, para participar no torneio! Confesso que senti uma inusual vaidade por ver aqueles putos com o equipamento das quinas vestido, ali, em Nacaome, uma aldeia remota das Honduras…

Muros desfeitos


Muros da infância

No dia seguinte poderia perfeitamente ter entrado na Nicarágua, mas como o mapa e o guia são parcos em detalhes, não dando para perceber a dimensão da primeira povoação do outro lado da fronteira, decido pernoitar em El Triunfo, a menos de 10 kms da Nicarágua. Mas contrariamente às minhas expectativas, não havia qualquer multibanco no povoado e, do dinheiro que tinha, sobraram 50 lampiras (2€) depois de pagar o hotel. Pior, para entrar na Nicarágua precisava de dólares – 5, dizia o guia; 7 disse-me o cambista no dia seguinte; e 12 foi quanto tive de pagar. Não me restou outra opção a não ser pedir lampiras ao meu anfitrião, apanhar um autocarro cedinho e voltar a Choluteca, uns 40 kms atrás, para levantar dinheiro…e esta é o resumo da diferença entre entre um gajo (eu) da “classe média” de um país rico (Portugal) – ainda que possa ser o mais pobre dos ricos – e a generalidade dos centro-americanos com quem me cruzo, com quem falo, com quem convivo: um cartão multibanco que me permite acesso ao “mercado”




Muros de papel pardo

13 comentários:

  1. Quanto mais pequeno o país, menos interessante é? Foi a ideia que se formou na minha cabeça depois de ler esta tua publicação. À falta de paisagens estonteantes ou museus do outro mundo, regalo-me com as expressões das pessoas que nos mostras, de certa maneira são elas o mais importante de qualquer viagem, especialmente nesses países não ricos. Mas são sempre as experiências inesperadas como é o caso do divertido encontro com o equipamento das quinas ou o episódio da fronteira, que nos fazem estar sempre aqui, atentos e colados ao monitor para ler sempre mais uma história única do bacalhau de bicicleta. Boa continuação por essa panamericana abaixo, Idílio.

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  2. Idílio, boas, mais 2 países, isso é que é somar, como bom contabilista que és não há engagano. Essa da água empacotada é que não lembrava aos europeus, heim!!. E que grande surpresa de veres a Selecção das Quinas tão longe... boa sorte continua bem.josué

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  3. Olá Idílio, continuas a dissertação sobre a Economia Política do Desenvolvimento - Ah, essa deformação de base! Ainda alimentei a esperança de te ver relatar que, quando te dirigiste ao banco de suplentes, era para defenderes a baliza da tal equipa das quinas. Achei muito curioso o pormenor do check-in às 17 horas. Na linguagem a RUMM tiveste que "dar baixa". Continua a pedalar que nós, por cá, na impossibilidade de por aí andarmos, temos sempre o consolo de conhecer a "latina américa" trauteando a música dos Jafumega: "do Paraguai a Porto Rico, Salvador às Honduras, da Bolívia à Guatemala, da Argentina ao Chile, Latina América, Latina América, Ooohhh!
    Abraço, Palhares

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  4. Idílio, san salvador é uma terra encravada e esquecida, desigual e violenta, muita miséria e lixo por todo o lado, e uma história sangrenta para a qual os EUA muito contribuiram, e em que os corruptos ultra-liberais da Arena ganhavam as "eleições" desde que acabou a guerra civil há uns 20 anos e privatizaram (apropriaram-se) tudo o que podiam e mais o que não podiam.... mas desde 2009 que o Funes, da FLFM, ganhou as eleições e acho que há esperança. há muito, muito potencial, tenho pena que tenhas passado tão depressa por aí. Nas zonas em que a guerrilha era mais activa até aos anos 90, sobretudo a norte de san salvador, irias conhecer gente muito interessante. era preciso mais tempo...beijinhos e mais saudades

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  5. “a minha convicção, cada dia mais profunda, é que a “principal causa” da pobreza em que vivem persistentemente 4/5 da população mundial, em modernos sistemas de escravatura, produzindo, de borla, os bens que esbanjamos quotidianamente, são os “termos de troca”, que o abençoado “mercado” generosamente pondera a favor dos ricos.”
    Nem mais..!
    Vale a pena vir aqui, pela aventura, a descrição de paisagens, de gentes, de culturas …e também o discernimento sobre a vida ! Continue!
    Buon Camino!
    Hadias

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  6. Ídilio, uma bica a 50 cêntimos? estás a ficar um bocado desactualizado. Isto por aqui está que não se pode. Hoje foi o dia de encarar o corte no salário. Bem sei que mesmo assim somos ocidentais e ricos, mas que sabe a retrocesso, lá isso sabe... Enfim, vamos vivendo um bocado anestesiados com os sucessos dos nossos craques do futebol. Força nesse traseiro! Beijos.

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  7. Caro Idílio, temos estado em campanha eleitoral (no próximo Domingo haverá eleições) e acredita que não perdeste nada de substancial. Quando voltares estarão cá os mesmos personagens. O nosso declínio parece inevitável mas apesar de tudo continuaremos a ser um país "rico" e privilegiado. Estranha consolação...Um grande abraço. Luís M.

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  8. É como se os "termos da troca" no episódio da fronteira não tivesse ponderado a favor dos ricos! Um abraço.

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  9. Idílio, não conhecia o Schafik, mas todos têm direito ao seu herói contemporâneo. sabes que cultivo o gosto do café, o senhor Fernando da Edite já me disse que pensa aumentar dos 55 cêntimos para os 60, mas depois do teu relato acho que não me saberá da mesma maneira. não estivesse eu em Bruxelas e amanhã lhe contaria a tua estória. não tenho vindo ao blogue que este mês foi duro e com outras prioridades, mas continuo a emocionar-me a ler-te. aquele abraço, até breve

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  10. Este comentário foi removido pelo autor.

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  11. Muito boa noite, caro Idílio.O meu nome é Rita Brito, sou estudante universitária no curso de Sociologia e gostava de realizar um trabalho, no âmbito da cadeira Sociologia da Vida Quotidiana, acerca do seu blog, e da sua experiência.
    Gostaria de contactar consigo, a fim de saber se era então possível a sua cooperação no meu trabalho.
    Desde já, muito obrigada, e boa viagem!

    Rita Brito
    ritacameirabrito@gmail.com

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