PanamáComo não comento o meu blog, aproveito este post para deixar uma mensagem ao Rafael:
1 – Rafael, tenho muita informação estatística sobre a viagem (mapa do percurso, estradas, locais de pernoita, kms diários, velocidade média, custos por país, furos, etc.). Mais tarde, talvez no fim da viagem, disponibilizarei essa informação no blog.
AH! E ainda me doem os ouvidos dos protestos pelos atrasos, pouca escrita, bla, bla, bla!! A cerveja na América central e do Sul é mais sedutora…
Panamá – da cerveja gelada
Na fronteira de Paso Canoas há um movimento inaudito de camiões. Ao longo de talvez mais de um quilómetro, há dezenas e dezenas de enormes camiões estacionados em espinha, com matrículas do México e de todos os países da América Central. Enquanto alguns motoristas parecem dormitar ao volante, outros repousam em esteiras estendidas no chão, à sombra das galeras enquanto os mais criativos baloiçam em camas de rede suspensas de árvores próximas. Todos parecem preparados para longas esperas…
Ainda do lado costarricense, a poucos metros dos guichets, perfila-se uma larga dezena de motas de alta cilindrada. Por dupla afinidade – às duas rodas, mas também à Transalp que me espera em Portugal, e que recordo por vezes com saudade – estacionei a Demspter ao lado, parecendo-me que não destoava na fotografia!! Ainda estava a executar a difícil manobra – não se julgue que a marcha-atrás, ou encontrar o ponto de equilíbrio do descanso, com atrelado, são manobras fáceis! – e já se me dirigia um matulão de óculos escuros e casaco de cabedal. Perguntou-me se falava espanhol ou inglês e respondi-lhe que era fluente nas duas línguas! – está a apetecer-me brincar com a narrativa …na verdade disse-lhe que arranhava ambas as línguas. Contrariamente às minhas expectativas, não vinha pontapear a bicicleta nem dar-me uns murros, mas sim inquirir com avidez sobre o meu percurso. E os olhos e a face daquele calmeirão de voz trovejante, distendiam-se de surpresa e espanto. E simpatia! Deu-me uma “lição gratuita” e verdadeira – como fui comprovando ao longo do tempo que passei no Panamá. Que as estradas eram boas e com bermas largas o mais das vezes; que podia almoçar bem por 2 ou 3 dólares, e tomar um bom pequeno-almoço por $1,5 ou $2; que o país era muito seguro e as pessoas amistosas, podendo viajar tranquilo e sem receios – apenas ter algum cuidado na cidade do Panamá; etc.. E quando terminámos a conversa e me dirigi para o guichet carimbar a saída, disse-me para ir à vontade que ficava de olho na bicicleta, pois estava à espera dos amigos que visavam a entrada na Costa Rica, para participarem num fim-de-semana de motards em Quepos.
Se a saída da Costa Rica foi rápida, a entrada no Panamá foi meteórica. Apesar de magotes de pessoas nas imediações, não havia uma única nos guichets, o que me levou a duvidar de estar no sítio certo…Pergunto ao “miúdo” por trás do vidro se era ali que se obtinha o visto para entrar no Panamá e acena-me com a cabeça que sim, enquanto continua a conversa com mais dois ou três funcionários. Passo-lhe o passaporte e quase sem olhar, pergunta-me em que transporte viajo. Respondo-lhe “de bicicleta”. Finalmente interrompe a conversa e olha-me de frente. “Como viaja”? repete. E eu repeti também, “viajo de bicicleta, desde o Canadá, por todo o continente americano, há seis meses, como pode confirmar pelos carimbos”…Dá uma vista de olhos pelos vistos enquanto os outros funcionários me observam por entre acenos de cabeça e polegares esticados.
Silêncio interrompido
Em 30 segundos tinha o visto e estava a pedalar na larga, plana, de grandes bermas e maiores rectas, estrada pan-americana, sob o sol tórrido do meio-dia. Felizmente a estrada era mesmo plana e rolava rápido, sem esforço.
Praticamente não havia casas e tinha por companhia apenas os carros, com elevada percentagem de camiões, que passavam rápidos.
Duas ou três dezenas de quilómetros percorridos e surge o primeiro restaurante. Parei para o primeiro teste…Contíguo ao edifício principal, onde apenas uma mesa estava ocupada, havia um grande alpendre com mesas e cadeiras e foi aí que me acomodei. A música brotava com estrondo de dois pares de colunas. Da porta lateral, que ligava o restaurante ao alpendre, os comensais de dentro acenaram-me e retribui. A proprietária, senhora dos seus 50, bem constituída, apareceu devagar para me dizer a ementa: pollo ou língua de rés guisada – qualquer dos pratos acompanhados com arroz, feijão e salada. Para espanto dela, optei pela língua. Perguntou-me se eu sabia o que era língua de rês (não deve ser assim que se escreve mas é assim que designam vaca em espanhol…), se no meu país se comia, se alguma vez tinha comido – parecia preocupada se eu iria gostar… Disse-lhe que sim, que conhecia e gostava.
Antes da língua veio uma garrafa de litro de água fria, que se evaporou sem deixa rasto, depois veio um delicioso, apesar de muito doce, sumo de limão com raspado – não sei o que será o raspado… e, finalmente, a língua, que apenas pecava por ser um pouco dura.
Quem deve ter engraçado comigo foi a Vânia Miranda, a miúda de 5 anos, filha da dona do restaurante, pois sentou-se á minha mesa com a sua mota amarela com uma motociclista de cor-de-rosa, já se vê, e não mais me deu sossego, entre aceleradelas ruidosas e perguntas intermináveis. No fim de almoçar, enquanto aguardava pelo troco dos $2,25 do almoço, a Vânia ia levantando a mesa, uma coisa de cada vez, como a mãe lhe ordenava do balcão…
Apesar dos 108 kms da jornada, desde Porto Jiménez, na Costa Rica, cheguei a David cedinho, graças ao relevo amigável. Inflecti para dentro da cidade, deixando a pan-americana ao trânsito intenso do fim da tarde, e fui pedalando devagar por ruas completamente simétricas, ladeadas por casas pequenas, dispersas na abundante vegetação. Procurava um cruzamento com indicação do número na rua e avenida para me poder orientar e dirigir à Purple House Hostel. Ainda mal tinha posto o pé no chão e sacado o guia da mochila, já um dos vizinhos interrompia a cavaqueira e se me dirigia, perguntando se procurava a purple house. Disse-lhe que sim e indicou-me dois quarteirões ao lado.
Blue Morpho (doente)
Claro que a purple house é lilás, intensamente lilás, com mobiliário lilás, loiça lilás, roupa lilás, sanitários lilás, camas lilás. Enfim, pouco existe ali que não seja lilás… A Andrea, proprietária, explicou tudo com muita simpatia e precisão, incluindo os dois frigoríficos – o da esquerda para ela e o da direita para os hóspedes. Com excepção do quarto e casa de banho, tudo o mais na casa era totalmente partilhado com os hóspedes.
Depois de tomar o ansiado banho, fui deambular um bocado pela cidade, que me pareceu de imediato grande em superfície e baixa em altura. Numa qualquer rua – todas as ruas, com excepção do “centro”, como vim a confirmar, me pareciam iguais – havia uma tasca e procurei uma cerveja. Mas ali só vendiam bebidas não alcoólicas. Bebidas alcoólicas, só no bar, dois quarteirões adiante, como me indicou a proprietária. Não havia que enganar.
Apesar de serem umas 4h da tarde de sexta-feira, ao que parece, a música trespassava as paredes do bar e inundava um ou dois quarteiros em redor. Entrei no pequeno espaço em L, e apenas uma mesa, mesmo à entrada, estava livre. Todas as outras estavam repletas de homens – apenas homens – e garrafas de cerveja – mais vazias do que cheias. Puxo uma das duas cadeiras para me sentar e já um dos meus vizinhos da mesa do lado me dizia, com um sorriso afável, para não me sentar naquela cadeira, pois estava “coxa” – e levantou-se mesmo para me mostrar. Pegava na segunda cadeira quando outro ocupante na mesma mesa me convidou a sentar-me com eles e acho que ainda não me tinha sentado, já me esperava uma Panamá gelada! Melhor recepção não poderia esperar. E melhor companhia também não, pois o Mário, o Osvaldo e o Kirby eram fãs, praticantes e juízes de ciclismo. Neste fim-de-semana estava a decorrer uma prova internacional de BTT ali em David, organizada por eles – a associação de ciclismo de David – e pela federação de ciclismo, e que contava, entre outros, com os campeões centro-americano e pan-americano de BTT. Ao fim de uma hora de muita bicicleta e uma larga meia-dúzia de deliciosas cervejas geladas, foi uma guerra para me deixarem pagar duas rodadas, revivendo, por momentos, “batalhas” iguais, com décadas de desfasamento, na perdida aldeia das beiras, em que a solução passava sempre por “mais uma rodada, pago eu”.
Em David, introdução à dura vida panamenha
Levantei-me com o propósito de ir passear e “cheirar” um pouco da cidade, sobre a qual não tenho referências dignas de registo, e o Mário levanta-se também. Afinal tinham decidido que ia comigo mostrar-me a cidade – não por segurança, porque não há qualquer perigo em David, mas por prazer, disse. Caminhávamos pelas ruas geométricas e ia-me descrevendo cada edifício, do simples banco, à antiga estação de comboios, escolas, parque, ou posto da polícia. E de quando em vez parava numa porta para cumprimentar um amigo, e outro e outro ainda. Parece que conhecia metade da cidade…afinal era guarda-fiscal ou coisa do género.
Separámo-nos no Parque Cervantes e acho que ainda ficou ali um bocado a olhar-me de longe…talvez para se certificar de que eu estava mesmo bem, que a cerveja não tinha sido em excesso e que conseguiria chegar bem à purple house, seguindo as orientações que não se cansou de me repetir.
Mas se não me perdi até à purple house, demorei umas boas horas a chegar. É que duma esquina chegava o som tonitruante de uma banda de música. Nu cruzamento de ruas, dividida em 2 grupos, metade de cada lado da rua, uma banda filarmónica ensaiava com afinco. O pequeno maestro, empertigado num estilo militar, parecia zangado com a indisciplina e alguma risota dos pupilos. Mas os trompetes, o saxofone, os pratos e os tambores, entre outros instrumentos que desconheço, iam irrompendo com alegria no silêncio da noite escura. Até os dois postes de iluminação se “silenciaram” e os raros carros que passavam, pareciam desligavar os motores… quando o maestro parou o ensaio para reunir os pupilos em seu redor e desatar a desancar-lhes – foi o que me pareceu pelo tom de voz e gestos – retirei-me, não fosse confundir-me. Mas não longe, ouvia-se o apito regular de um qualquer árbitro. Afinal, poucos quarteirões adiante, havia um complexo desportivo onde se jogava futebol de sete, basquetebol e voleibol. O jogo de basquetebol era mesmo à seria, com assistência, “bifanas” e árbitros, e fiquei-me por ali a ver os talentos desportivos daquela malta e com grande vontade de saltar para o campo de futebol, onde vários jovens jogavam descalços.
Cheguei à purple house estafado, com a sensação de ter vivido uma carrada de dias num só.
O caminho é em frente, sempre
David fica rapidamente para trás e o trânsito reduz-se drasticamente. Os povoados escasseiam – não é impunemente que 1/3 dos panamenhos vivem na capital – e, quando surgem, são de dimensão diminuta. A estrada pan-americana irrompe pela paisagem plana, de vegetação pouco densa mas verdejante, onde a pastorícia parece ser a principal actividade. Na realidade, durante as primeiras horas da manhã, estranho um fluxo anormal de carrinhas em sentido contrário ao meu, transportando belos cavalos com arreios coloridos. Afinal vai haver uma espécie de rodeo…Pequenas manadas de vacas pastam tranquilamente à sombra dos arbustos, quando não repousam ou são encaminhadas, por ginetes saltitando nas montadas, para outras parcelas de terreno.
...sempre em frente
Apesar de ter tomado um pequeno-almoço antes de começar a jornada, paro num café-restaurante onde se perfilava um grande número de carros e camiões. Entrei na grande sala quadrada, e estendi o olhar. Ao balcão, uma dupla de homens despejava “balboa” atrás de “balboa”, dispondo as latas vazias em pirâmide. Em redor das mesas, dois grupos de camionistas faziam tinir os talheres nos pratos abundantemente recheados com ovos, salsichas, arroz, feijões e douradas tortilhas de milho. Fiz o pedido à jovem empregada e sentei-me numa mesa de canto, perto dos dois bebedores de cerveja. Enquanto comia tranquilamente, as duas mesas de camionistas vagaram, ficando apenas com os bebedores. O mais jovem ofereceu-me uma cerveja, que recusei. Entretanto começa a dar largas à melancolia, declarando-se apaixonado por “aquela bela mulher” – a proprietária do estabelecimento, que estava na caixa na outra ponta do balcão, fingindo ignorá-lo. Como recusei a cerveja, agora insistia em oferecer-me o pequeno-almoço, enquanto continuava a discorrer sobre a beleza da senhora, o amor que lhe tinha e que ela ignorava. Quando fui pagar, a bonita senhora olhou-me algo embaraçada e disse-me que, para além de borracho, ele estava louco…
Afinal, além da pastorícia, começam a surgir vastas áreas de produção de ananás e de cana-de-açúcar. Camiões de grandes atrelados, aguardam, especados no meio dos campos de ananases, que modernos empilhadores depositem ordenadamente os pequenos contentores repletos de ananás. Ceifeiras gigantes ladeadas de camiões com carroçarias gigantes, percorrem lentamente os campos geométricos, ceifando cana. Curiosamente, de uma vasta parcela de cana, com as pontas ainda verdejantes, soltam-se chamas baixas e nuvens de fumo acastanhado…Deduzo que tenha como objectivo queimar as folhas secas que rodeiam a cana, poupando assim espaço no transporte.
Apesar da brisa que me acompanha lateralmente, a jornada decorre com facilidade e bom ritmo. Apenas o calor crescente e a humidade elevada, desgastam.
A estrada pan-americana mostra duas realidades distintas: um Panamá rural, agrícola, rústico, tradicional, lento e acima de tudo de pessoas simples e amáveis; e o panamá dos carros rápidos, modernos e apressados.
Contrariamente aos demais países da América Central – com excepção da Costa Rica – não há sinais evidentes de pobreza, pelo menos de miséria. Não é apenas pela cerveja, que corre em quantidades enormes, mas os próprios “supermercados” de beira da estrada são razoavelmente fornecidos e vê-se a população local a comprar. Uma das curiosidades, e surpresas, com que me deparei, foi a enorme percentagem de chineses que vivem no Panamá, sendo raros os supermercados que não lhes pertençam, numa especialização económica surpreendente…claro, a forte presença chinesa deve ter as suas raízes na enorme imigração para a construção da linha ferroviária, primeiro, e do próprio canal do Panamá, mais tarde.
Sem que se perceba bem de onde surge, pois não são visíveis sinais de qualquer povoado perto, apenas se avistando a planície, rodeada, muito ao longe, por discretas orlas montanhosas, uma pequena banca de fruta, emerge por entre a sombra das árvores frondosas. Para além de vários tipos de bananas, vende ananás e cocos frios! Paro de imediato, pois a água das 2 garrafas há muito que parece chá. Parece ser toda uma família a viver em torno do pequeno negócio: miúdos, adultos e mesmo uma senhora idosa, preguiçam em camas de rede, penduradas na sombra das árvores, ou em espaçosas cadeiras de baloiço á sombra da cobertura de colmo da tenda anárquica. Pro e todos os olhos se viram para mim. Peço uma pipa fria, que me servem com palhinha e simpatia. E enquanto bebo, deliciado, o leite de coco, mais pela frescura do que pelo sabor, vamos conversando sobre o tema habitual: de onde venho, para onde vou, quanto tempo, o que acho do Panamá, etc.. Quando vou para pagar, dizem-me que é “regalo”. Insisto e persisto, até que aceitam os 25 cêntimos, mas presenteiam-me com um cacho de bananas, que não recuso…
Com a proximidade da pan-americana ao mar, agora são pequenas barracas de peixe e moluscos que surgem, de quando em vez, à beira da estrada. Apesar das moscas, que insistem em passear pela boca, o enorme peixe vermelho conserva o ar fresco e o olhar vivo. Vivo e afável são também o olhar e a voz dos dois jovens pescadores que esperam pacientemente por um cliente que desembolse os 17 dólares (negociáveis) que pedem pelos mais de 5 kgs de peixe…
17 dólares de peixe
Devo ter um furo lento na bicicleta, pois está a perder ar na roda de trás – sempre na roda de trás!! Busco uma sombra e decido despender alguma energia e muitas gotas de suor a encher a roda. Ainda estava no início, quando pára uma camioneta de caixa aberta, ao meu lado. O condutor, um idoso ladeado pela mulher, pergunta-me, com um sorriso, se estou com problemas e se não quero que me leve e à bicicleta até à próxima povoação, pois está muito calor e vêm aí umas subidas…Digo-lhe que não, quase com receio que interprete mal a minha recusa ao seu gesto amável. Acena a cabeça, como que dizendo que devo ser maluco, e lá vai, de sorriso no rosto e mão levantada a dizer adeus.
Se são assim mortos...
Não devo estar longe de Tolé, uma aldeia que surge no mapa e que é suposto ser a minha única opção de campismo “urbano”, pois não há qualquer outra povoação num raio vasto. Mas a zona é agradável e começo a perscrutar a paisagem nas imediações da estrada – na verdade, se surgir um ribeiro e uma clareira simpática, estou com vontade de um campismo verdadeiramente selvagem. Muito perto, o que surge é o restaurante “La Isleta”, à ilharga de um verdadeiro rio e envolto no mar de tranquilidade do entardecer. Porque não? pensei, e lá fui. Um jovem com ar afectuoso veio receber-me e expus-lhe a coisa: queria acampar por perto e jantar mais tarde, se possível. O rapaz não escondia o espanto com a bicicleta e a tralha toda, mas lá me conduziu ao “chef” Roberto, que para além de “chef” da cozinha, era o proprietário do restaurante e administrava toda a quinta da família, onde produziam gado bovino.
Depois de terminado o telefonema “de negócios” do Roberto, o jovem empregado apresentou-me. Com a mesma simpatia, foram-me abertas “as portas” da quinta, da casa (casa de banho e duche), do restaurante e mesmo dos kayaks, se eu ainda quisesse arriscar ir até ao mar, “que fica a menos de uma hora de kayak e tem praias lindíssimas, só acessíveis pelo rio”, disse. O Roberto incumbiu mesmo o rapaz de me ir mostrar os sítios mais bonitos, incluindo o “miradouro” das aves e a isleta (onde o rio faz como que uma ilhota).
Na verdade preferi tomar banho no rio e já não arrisquei ir até ao mar…quase dormitei no observatório dos pássaros e lamentei, mais uma vez, não ter binóculos para ver de perto os coloridos, e ruidosos, periquitos, patos e tantas outras aves que o entardecer trazia às margens do rio.
La Isleta - campismo selvagem
Confesso que foi o jantar mais extravagante da viagem e que me custou US$33, mas dificilmente o esquecerei. Disse ao Roberto para sugerir e aceitei todas as sugestões, claro. De entrada, um licor à base de rum com umas gotas anizadas e um ceviche misto, servido na concha; prato de carne de vaca fumada com uma madeira especial, acompanhada de yuca frita, salada e ervas aromáticas e uma garrafinha de Cavernet Sauvignon, chileno; para sobremesa, um sorvete de qualquer coisa parecido com laranja ou mandarim. Mas o melhor mesmo, foi o ambiente amistoso, simpático, familiar, pois eu era o único cliente!
Cavalos com (c)alma
Escrever sobre este Panamá rural, distante da capital, dos seus prédios modernos e vida cosmopolita, obriga a referir as “cantinas”! Não sei se são como as “cantinas” do México, pois aí não as vi. No Panamá, à beira da pan-americana, no local mais remoto, podemos ser despertados do torpor do calor e do silêncio da natureza, pelo troar estridente e alegre de uma juke box. As “cantinas” normalmente são uma espécie de salão de baile, sem paredes – ou com um pequeno muro circundante – com pilares em volta, onde se apoia um telhado de metal e, num dos topos, o balcão que faz a “ponte” entre os clientes sedentos e (normalmente) as empregadas mais ou menos lânguidas e volumosas. Praticamente só se vende cerveja – embora pareça também existir coca-cola –, que sai gelada, em grandes quantidades e baixo preço. No salão dispõem-se algumas mesas e bancos, normalmente perto da “juke”, e as conversas decorrem aos berros, única forma de se fazerem ouvir. Por vezes uma “miúda” sorridente partilha a mesa e uma cerveja com uma mão cheia de homens. Não raras vezes é difícil ver a cor da mesa, repleta de cervejas vazias… Os clientes são de todas as idades, invariavelmente masculinos, chegam a pé, de bicicleta e mesmo a cavalo, que amarram à sombra de uma árvore próxima. É uma imagem pitoresca e anacrónica que guardo, (in)felizmente (?) apenas na memória, destes ginetes tisnados pelo sol, de olhos negros na rugosa face torrada, sob as abas dos chapéus claros do panamá, altivamente empertigados na garupa do cavalo, vivendo devagar…
Artesanato panamenho
O vaticínio foi feito pelos meus amigos ciclistas de David: até Santiago tens de subir aos 1100 metros, mais ou menos, mas depois é sempre plano até à cidade do Panamá.
De facto tive algumas subidas pela frente, mas não dei pelos 1100 metros. Dei, sim, foi pelo vento constante…Santiago pareceu-me uma cidade verdadeiramente feia, em claro contraste com David. Suja, de blocos de prédios decadentes, sujos, inestéticos, com mais lixo do que o habitual e cheiros putrefactos. Na cidade, só vi duas “espécies” de residenciais e um hotel – o Hotel Santiago. Se por fora, e à distância, até parecia acolhedor, no seu verde suave, no interior, parecia parado há umas décadas – na verdade reparei que havia uns diplomas de mérito, e não sei que mais, pendurados na parede, mas datados do início da década de 60…Um pouco pior foi não haver água. Só depois de instalado e quando ia para tomar banho é que me apercebi. Ainda fui reclamar, mas o displicente empregado disse-me que não havia em toda a cidade. O dia tinha sido duro e um banho era o mínimo que esperava. Havia um balde de 20 litros de água no pátio/jardim interior e, discretamente, levei-o comigo. Regressei ao velho método do pucarinho, mas senti-me novo. Boa e barata é a padaria mesmo em frente. Perante o espanto do empregado, comprei um litro de leite e uns quatro bolos diferentes, devorando tudo ali, na mesa existente!
Ainda equacionei pernoitar em Penonomé, mas o meu objectivo secreto era a praia de Santa Clara. Diziam-me que eram vários quilómetros de areias brancas, escassas dezenas de pessoas, águas tranquilas e calma absoluta. Apesar de já estar com mais de cem quilómetros nas pernas, decidi, portanto, atacar os últimos trinta e tal quilómetros até Santa Clara. Sentia-me fatigado, desgastado física e psicologicamente pelo vento, um leve ardor no joelho esquerdo, mas queria dormir na praia, ao relento ou na tenda! Como a estrada inflectia praticamente para sul, o vento passou a favorável, o relevo também ajudou e disparei por ali fora, a trinta kms hora, quando não mais!
Praticamente não há indicação de Santa Clara. É preciso deixar a pan-americana e virar à direita por uma pequena estrada de asfalto. Pedala-se uns dois kms, à ilharga de dispersas casas disfarçadas na vegetação, e chega-se a uma vedação de rede com um portão grande. Um edifício de pedra e colmo abriga o guarda – é o acesso público, mas pago, à praia. O empregado, idoso, negro, com voz de trovão e olhar penetrante – que de imediato associei ao Morgan Freeman – pergunta-me se quero acampar. Respondo que sim, dois dias. São 9 dólares, diz. Alem são as casas de banho, ao lado o duche e pode acampar aqui atrás, frente à praia, onde quiser. Mas, atenção, nós não somos responsáveis por nada das suas coisas. Se roubarem ou estragarem algo, não assumimos qualquer responsabilidade! Is it understood? rematou, com o olhar mais fixo e a voz mais forte e firme que nunca. Sim, disse eu.
Daí a poucos minutos o Morgan Freeman terminou o turno e foi-se embora, ficando um muito mais afável e simpático panamiano de vigilância nocturna. Rapidamente estabelecemos diálogo e arrumei a bicicleta e o atrelado, com tudo o que não necessitava, numa divisão do edifício.
Campismo na praia de Santa Clara
O dia em Santa Clara foi de repouso e relaxe quase total. O areal é interminável, o mar de água (demasiado) morna e calma; pequenas embarcações de pescadores empertigados, saltitam rápidas nas ondas, paralelas à costa; um casal de idosos alourados e pele alva, fazem esvoaçar as gaivotas e outras aves madrugadoras. O sol da manhã desperta reflexos dourados no areal adormecido.
Não é preciso esperar pelo meio-dia para sentir o sol tórrido dos trópicos arrancar gotas consecutivas de suor. Decido procurar a tasca onde ontem ouvi barulho, junto ao desvio da pan-americana. Vou a pé e percorrer os dois quilómetros, mesmo ziguezagueando pela estrada em busca de cada sombra, seca-me a garganta e o metabolismo. Ao balcão está um grupo de quatro ou cinco homens e duas mesas da pequena tasca também estão ocupadas por bebedores sequiosos. A televisão compete com a aparelhagem, não se ouvindo qualquer delas, apenas um ruído infernal que ecoa de parede em parede. Fico-me pelas duas “panamá” de aperitivo e mais duas a acompanhar a carne guisada com yuca, frijoles e salada.
Regresso por um caminho diferente, ladeado de pequenos palacetes, discretos sob a vegetação tropical. Na orla marítima, então, as casas de grandes jardins projectam-se no areal branco, com o oceano turquesa em fundo. Para aceder à praia – “privada” – tenho mesmo de aproveitar um portão aberto e ignorar o repetido aviso de propriedade privada.
De regresso ao meu “lote” de três metros quadrados, decido remendar o furo que me aborrece há uns dias. E nem precisei abrir o kit de reparação, para perceber que algo está errado, pois o peso não é o habitual… afinal desapareceu o jogo de chaves. O mais certo é tê-lo esquecido na beira da estrada, aquando do último furo, ainda na Costa Rica. Afinal este furo é esquisito, pois é na parte interior da câmara…talvez esteja na hora de seguir a sugestão, de há meses, do Serra e pôr uma fita nova no aro…
Remendo posto, tralha arrumada e … reparo na tenda. Está esquisita, torta. Tiro a cobertura e confirmo o óbvio: não está torta, está partida uma das “guias” que a sustem! E como se não bastasse, no local em que partiu, rompeu ligeiramente a cobertura, ficando vulnerável à chuva, quando for o caso! Ou foi por maldade ou, mais provável, algum dos putos que por aqui passaram, deve ter-se – ou ter sido – projectado para cima da tenda, pois é preciso um impacto forte para partir e romper o tecido…Porra, dois contratempos seguidos são desanimadores. Procurei concentrar-me na minha máxima preferida e “o que não tem remédio, remediado está”. Hei-de encontrar uma solução e será melhor amanhã do que agora…Como havia um movimento anómalo junto à água, umas dezenas de metros adiante, fui até lá. Um dos barcos que passou de manhã para a faina, regressava a abarrotar de pargo “rojo”. Literalmente a abarrotar…não imaginava que ainda houvessem cantos escondidos neste planeta delapidado, onde uma barcaça artesanal e uma rede conseguissem capturar tal quantidade de peixe.
Pargo "rojo", esconde-te dos famintos pesqueiros europeus...
Novos e velhos, homens e mulheres, atarefavam-se a retirar o peixe da rede, pargo após pargo, caixa após caixa. Não faltou, a meio da tarefa, uma rodada de cerveja gelada que pareceu evaporar-se, mal tocava nos lábios secos de cada um.
Claro que ao jantar não pude perder um pargo fresco, infelizmente frito, pois peixe grelhado parece ser um conceito desconhecido por estas latitudes…
É preciso é ter lata...
A aproximação à cidade do Panamá afinal é mais tranquila do que esperava. Apesar do trânsito ser intenso e especialmente ruidoso, pois os panamenhos adoram buzinar, pedalei sempre tranquilo e com sensação de segurança, mesmo quando a berma da estrada desaparecia e tinha de rolar na faixa de rodagem…
Cidade Panamá - o içar mortal da bandeira
A ponte das Américas marca a entrada na cidade do Panamá, com a transição brusca do espaço rural para o urbano. Uma pequena zona de subúrbios, com ruas estreitas e sujas, ladeadas de blocos de prédios não muito grandes, mas feios, e armazéns decadentes, não deixa adivinhar o moderno centro de torres de betão e vidro, com os pés no mar e olhos no céu. Avenidas largas, pontes e viadutos, separados do mar por um amplo espaço verde, com ciclovia e via pedonal contornando o pacífico, conduzem-nos ao coração financeiro e económico da cidade. Apesar de não ser fã do betão e vidro apontados ao céu para residir, agradou-me contemplar de longe, do aprazível parque verde, do azul do mar calmo, as formas, a geometria e reflexos da cidade…
Panamá moderno
Mas a minha Panamá estava há muito escolhida: seria a zona de San Felipe, ou “casco viejo”, a segunda localização da cidade colonial, depois da primeira cidade, afastada uma dezena de quilómetros, ter sido saqueada e incendiada pelo bando de piratas de Henry Morgan, nos idos de 1671.
Casco Viejo (San Felipe)
O “casco viejo” é uma espécie de promontório que se estende mar adentro, ao longo das três ruas longitudinais (avenida central, avenida A e avenida B). A “entrada” no casco viejo é desagradável, feia, suja e mal cheirosa. Mas à medida que avançamos para o extremo do povoado, sente-se a atmosfera tranquila da vida descontraída por detrás de portas e janelas abertas; jardins, praças e ruas onde se joga à bola, escuta o relato desportivo, ou se disputa uma partida de xadrez. E no fim de cada (curta) “calle”, estende-se o azul denso do pacífico, suave como uma lagoa. Há dezenas de casas em obras de recuperação e muitas mais que parecem abandonadas ou profundamente degradadas.
Casco Viejo - artesão de "raspados"
Grande parte dos habitantes são de parcos recursos e a pobreza expõe-se, sem complexos ou floreados, por detrás de portas e janelas escancaradas, lado a lado com charmosas boutiques de artesanato, restaurantes para todas as bolsas e mesmo a melhor geladaria “do mundo”. A praça de França oferece entardeceres inebriantes, onde o tempo e o espaço perdem sentido, e o céu e a terra se fundem num abraço magico do instante infinito. Do “paseo de las bovedas” admira-se a distante Panamá moderna e as suas torres longilíneas debruçadas sobre o pacífico, sempre o pacífico…
Casco Viejo - Teatro
O museu do canal do panamá, surpreendeu-me não apenas pela exaustividade e abundância com que ilustra a história do canal, mas pela retrospectiva histórica do país, incluindo o período contemporâneo. Na verdade, por vezes parece que a história do Panamá é a história das vias de transportes e da ligação do Atlântico ao Pacífico. Desde a chegada dos colonizadores espanhóis, que há registos de correspondência no sentido de encontrar uma via que ligue os dois oceanos…Compreende-se, pois o objectivo era chegar ao “oriente” por “ocidente”! Mas a parte mais impressionante é mesmo a construção do canal do Panamá, seja durante a trágica tentativa dos franceses, seja durante a concretização americana. Os equipamentos mobilizados; a quantidade de trabalhadores oriundos dos quatro cantos do mundo; as dezenas de milhares de mortos – há relatos de dezenas de suicídios diários, por enforcamento, principalmente entre trabalhadores chineses, apesar de lhes ser fornecido ópio… fait-divers hilariantes e jogadas de mestre do lobby do senado americano pró-Panamá – discutia-se uma alternativa na Nicarágua. Agora tem sentido…quando estive em León, o Óscar – revolucionário sandinista que me mostrou a asociación de combatentes históricos héroes de veracruz – disse-me que houve uma reunião de “pacificação”, por volta de mil e novecentos, promovida pelo governo americano, em que um dos quatro pontos do acordo de paz era a construção do canal na Nicarágua. Curiosa jogada do lobby pró-panamá, foi o envio a todos os senadores, no dia da discussão, de uma colecção completa de selos nicaraguenses, cujo motivo são … os vulcões activos da Nicarágua! Como construir um canal num país pejado de vulcões activos!? E, já agora, parece que mandou também fotografias do “famoso” “arco chato”, do convento de Santo Domingo, no “casco viejo”, exactamente para demonstrar a “solidez” do Panamá, pois o arco, de 10,6 metros de alto por 15 de cumprimento, permanecia incólume desde 1678…
Casco Viejo
Mas a história do Panamá está indelevelmente ligada ao “amigo americano” e à sua importância estratégica nos transporte… Curiosamente, já a linha-férrea que liga o atlântico ao pacífico, foi construída velozmente para transportar o afluxo de bens e pessoas de… Nova York para San Fancisco, aquando da febre do ouro.
Cidade Panamá - Causeway
O hostal casco viejo fica no coração do “casco” e tem um ambiente verdadeiramente amistoso, dos empregados mais simpáticos e disponíveis que já conheci. Mas recordo o hostal especialmente por duas “figuras” que lá conheci: uma colombiana e uma italiana…
A Seraida, colombiana, viaja há dez anos pela América, do México ao sul do continente. Quando a conheci estava sentada em cima da cama, ladeada por martelos, alicates, arames, fios e mais uma infinidade de quinquilharias. Fabricava brincos, pulseiras, fios e outros objectos de adorno, que dispunha em vários painéis de tecido preto ou branco. Aprendeu, fazendo, e é da sua venda que vive e viaja pelos quatro cantos da América “pobre”. Quando nos apresentámos, estendeu-me a mão e ainda me doem os dedos e o braço, tal a energia, firmeza e força daquela mão pequena, esguia, de dedos finos e rijos. Ainda os meus amigos me acusam de ser bruto…deviam levar com uma daquelas!! Curiosamente, jantava eu numa improvável tasca, repleta de pessoas de todas as idades e credos, mas mais nenhum com sotaque de turista, quando senti uma mão amistosa nas costas e vi o ar de surpresa estampado no rosto, sempre sorridente, da Seraida. Não percebia como é que um turista acabado de chegar, tinha descoberto aquele sítio e, principalmente, se atrevia a entrar… Na noite seguinte a cena repetiu-se, desta vez sem surpresa.
Quando, ao anoitecer, regressei ao hostal, a Nassely, recepcionista, disse-me, em grande excitação, que tinha chegado uma italiana numa bicicleta igual à minha. Mesmo igual, repetia. Vinha no sentido contrário e tinha chegado tão exausta que tomara um banho e adormecera a meio da tarde – iria dormir 15 horas seguidas… Afinal, o que a bicicleta da Micaela (não sei se é assim que se escreve) tinha igual à minha – para alem das rodas, já se vê – é que também viajava com um atrelado, esse sim, exactamente igual ao meu…
Conheci a Micaela ao pequeno-almoço do dia seguinte. Deve ter acordado com fome depois de 15 horas de sono. O hostal tinha pequeno-almoço incluído, mas na verdade eram apenas uns pãezitos demasiado alvos e pequenos, com doce e manteiga de amendoim e café. Eu apenas “degustava” e depois complementava com as minhas provisões próprias, nomeadamente fruta e leite. Mas fui observando a Micaela, que repetia consecutivamente. A determinado passo confessou que já estava com vergonha, mas tinha tanta fome… e foi aí que começou a deixar cair relatos sobre a sua experiência desde o Ushuaia, de onde partiu em Agosto, em pleno Inverno! Falava com uma chama imensa de todos os sítios, das pessoas que conheceu, da generosidade que encontrou em todos os países, mas especialmente no Peru e Bolívia. Fui percebendo o que queria dizer quando deixou “cair” que atravessou o Equador com … 50€!! Nunca dormiu num hotel ou coisa parecida, raramente pagou o jantar, pois as pessoas em casa (ou quintal, ou jardim) das quais pernoitava, davam-lhe comida, por vezes não só a refeição mas também para levar! Eu estava mais ou menos aparvalhado… 50€ dá-me para dois dias e é nos países baratos!! Ofereci-lhe um ananás, que só aceitou depois de lhe mostrar que tinha mais dois para mim. Dei-lhe o mapa da América Central e perguntou-me se não queria algum dinheiro de comparticipação. Quando demos uma volta pela cidade, comprou bananas e … implorou (não regateou ou negociou, implorou) ao vendedor espantado, que lhe vendesse 10 bananas por um dólar. Para sorte dela, o vendedor não percebeu, pesou as bananas correspondentes a um dólar e … eram 12!
Trocámos alguma informação e contou-me da terrível travessia de barco que fez da Colômbia para o Panamá, por San Blass – eu farei o percurso inverso. É a 4ª pessoa que conheço que fez o percurso e todos me falaram do mar tormentoso. Há mesmo um inglês com quem me cruzei na Nicarágua, que me mostrava a forqueta da bicicleta, esmurrada das marteladas que lhe deu para a endireitar, pois com os saltos do barco, tinha ficado toda torta…A Micaela recomendou-me insistentemente que fosse de avião, pois não só era mais barato (cerca de 300 dólares, contra os 400 ou 450 de barco), como mais seguro, cómodo, confortável. Com o mar revolto, enjoou toda a viagem, não conseguiu comer nem dormir, parece que a tripulação não era simpática, o barco sujo e ainda teve problemas com o passaporte – recomendou-me que viajasse com o passaporte e só pagasse a viagem – pelo menos parte – no fim. Enfim, traçou um quadro apocalíptico, a todos os níveis, da travessia San Blass-Colômbia… No dia seguinte partiu “com as estrelas”, como gosta, e gosta de dizer.
O último inverno foi tão intenso que existem algumas centenas de milhares de desalojados no Panamá (dois milhões na Colômbia, ao que parece) e o canal, pela primeira vez em 100 anos, teve de fechar ao trânsito, para abrir as comportas e permitir o escoamento das águas do lago Gatún. A estrada que pensava seguir, de Chepo para Estelí, foi destruída e continua fechada ao trânsito. A alternativa é ir pela costa atlântica até Miramar e fazer de barco os 25 kms de ligação a Porvenir, uma das 375 ilhas que compõem o arquipélago de San Blas, território “autónomo” dos Kuna Yala, onde é indispensável carimbar o passaporte para a saída do país por mar para a Colômbia. Apesar da verdadeira narrativa de terror da Micaela sobre a travessia, mantive a decisão de ir de barco. É verdade que até para a Berlenga ia morrendo de enjoou, e da ligação Pico-Terceira nem se fala, pois não saí da casa de banho, mas está decidido: quero ir a San Blass, ver flutuar mais de 300 ilhas nas águas cristalinas – e revoltas, ao que parece – do Caribe, sentir de perto o remoto modo de vida dos Kuna e talvez sentar-me na ilha Robinson a tentar descobrir o sexta-feira…
O Raffa é um “agente” turístico. Entre outras coisas, intermedeia viagens de barco de San Blas para a Colômbia. É pequeno, franzino, moreno mas com um olhar vivo e afável. No hostal têm o contacto dele, mas quando o peço, dizem-me que ele está lá fora na rua. Saio e dou de caras com ele. Digo-lhe que pretendo uma viagem e procuro saber as condições. Parece que tem múltiplos contactos e que na próxima segunda-feira saem vários barcos. Digo-lhe que segunda-feira é muito apertado para mim, pois queria ficar mais um dia na cidade do Panamá e fazer a ligação de bicicleta, calmamente e visitando alguns pontos ao longo do percurso, nomeadamente o canal. Telefona para o primeiro – que tem o barco maior – mas parece estar completo. Refere-lhe que como o tempo está muito mau, a bicicleta não pode ir “em cima” mas dentro do barco e não tem espaço. Telefona para o segundo, que diz o mesmo sobre a bicicleta. Este tem espaço interior, mas tenho de pagar um extra: 480 dólares o total. Está acima do esperado e, principalmente, desagrada-me partir na segunda-feira, mas não tenho muitas alternativas. Peço-lhe para investigar se há mais alguém que parta a meio da semana. Faz terceira tentativa e o capitão Hernando diz-lhe que tem lugar, que parte segunda-feira ao fim do dia, pois está numa “viagem especial”, com um grupo de colombianos que fazem a viagem de ida-e-volta. A surpresa é que me leva por 250 dólares…Faço (poucas) contas: tenho de encurtar a estadia na cidade do Panamá e partir sábado de manhã, para domingo dormir em Miramar, de onde uma lancha me levará, supostamente por 25 dólares, e também intermediado pelo Raffa, directamente ao capitão Hernando.
Tudo apalavrado, regresso ao hostal e procuro a mephoquina para iniciar a profilaxia da malária. Mas de mephoquina nem rasto!! Há dois dias, no backpaker inn hotel, tirei os comprimidos da “farmácia” para os colocar “à mão” e não me esquecer da treta do tratamento e esqueci-me deles no hotel. “Ainda os estou a ver” em cima da cama e depois a mandar a coberta para trás, tapando-os, e lá ficaram!! Nas várias farmácias da cidade do Panamá não há mephoquina… Talvez se for ao hospital nacional, dizem-me nas farmácias. Mas há uma que tem cápsulas de quinina. Chatice porque assim tenho de tomar diariamente e não apenas uma por semana…paciência, é o que há.
Barcos à espera para atravessar o canal
As visitas ao canal só abrem às 9h. Mas às 9h em ponto há hordas de gente, com todos os sotaques e idiomas, para entrar. Parece ser um autêntico ovo de Colombo… O que mais me impressiona é a precisão de cada navio dentro do “tanque”: “este tem apenas 50 cms livres de cada lado”, diz a speaker. Numa operação em que tudo parece decorrer em câmara lenta, mas onde a precisão é absolutamente crucial, a primeira comporta abre-se e, com a água ao nível do oceano pacífico, o barco avança muito lentamente, rebocado por quatro ou mais rebocadores, que o mantêm “amarrado” e na rota. Fecha-se a comporta e a água começa a subir “rapidamente”. Dez minutos, diz a speaker e vê-se o barco a subir os cerca de dez metros. Agora a água está nivelada com o tanque seguinte.
Canal do panamá
Abre-se a próxima comporta e o navio avança devagar até ficar dentro do “tanque” seguinte. Fecham-se as comportas, de 600 toneladas, na traseira do navio e a água do segundo “tanque”, onde está o navio encurralado, sobe também cerca de 10 metros. Abre-se a comporta da frente e lá vai ele, a caminho do terceiro e último degrau desta escada que o elevou 26 (?) metros acima das águas do mar, para navegar ao longo do lago Gatún, até Cólon, onde descerá para as águas salgadas do atlântico…
De regresso à estrada, em breve alcanço o frondoso Parque Nacional Soberanía. É sábado e passam dezenas de ciclistas em bicicletas de estrada. Infelizmente, as sombras frescas do parque ficam rapidamente para trás e pedalo sob o habitual sol impiedoso.
O meu mapa só tem uma estrada para norte, para Colón, pelo que, em Chilibre, deduzo que tenho de seguir pela “autopista”. Há países onde é proibido circularem bicicletas e outros onde é permitido. Procuro alguma sinalização que me esclareça, mas o único sinal apenas proíbe peões. Avanço e poucas centenas de metros adiante estão dois polícias sentados à sombra de um toldo. Cumprimento-os de forma veemente, esperando alguma reacção, caso não possa pedalar na auto-estrada, mas recebo apenas uma saudação preguiçosa. Aproveito a descida e deixo-me embalar velozmente. Ainda não teria percorrido três quilómetros e já uma potente sirene me fazia comichão nos tímpanos. Olhei para trás e lá estava uma carrinha com luzes e sirenes a mandar-me parar. Não era da polícia mas sim da concessionária da estrada. Saíram e disseram-me o óbvio: que não podia circular de bicicleta. Expliquei-lhes que não havia qualquer sinalização, que os próprios polícias não me tinham dito nada e por isso não podia adivinhar – o que me estava a lixar era ter de subir a distância já percorrida. Sempre gentilmente, disseram que me levavam para trás na carrinha até ao “ponto de partida”.
Durante o resto da minha jornada no Panamá, parece que mudei de país… A estrada é suja, as habitações pobres, sujas, o lixo acumulado por todo o lado e cheiros a condizer. Os miúdos descalços e, os mais pequenos, semi-nus. À porta dos “talleres” acumulam-se carros decadentes, latas e pneus. Até os supermercados dos chineses parecem mais sujos e menos recheados.
Em Sabanitas tomei a estrada para Portobelo. Pouco a pouco, as povoações vão desaparecendo, surgindo coloridas casas dispersas, envoltas na luxuriante vegetação tropical e debruçadas sobre o mar do Caribe. Meia dúzia de quilómetros antes de Portobelo, uma curva da estrada trás consigo o hotel e restaurante octopus, de costas para a estrada e suspenso sobre o mar lânguido do entardecer. A proprietária é americana e não fala uma palavra de espanhol, apesar de viver há mais de uma década “por aqui”. Pergunto quanto custa um quarto e surpreende-me com a resposta: “venha ver e podemos negociar”. Era o único inquilino e fiquei com o mais barato, por 20 dólares…
Portobelo, esplanada do octopus - restaurante, hotel e escola de mergulho
Portobelo
Até Miramar, a paisagem pouco muda. A estrada é estreita e o tráfego cada vez mais reduzido. Sente-se que estamos noutro país; sente-se que os escassos habitantes pertencem ali e não a outro local; sente-se que o seu horizonte vai, no máximo, até Colón; sente-se que o tempo ali tem outra cadência. Em mais que um rio, dezenas de jovens espigadotes brincam como crianças, saltam de pontes em piruetas, mortais, ou de chapa, fazendo estremecer a ponte com o impacto na água – ou com as gargalhadas dos amigos.
Na última povoação que antecede Minamar, paro no supermercado para comprar água. Pergunto o preço, inclusivamente do garrafão de um galão, demasiado grande para as minhas necessidades e capacidade de transporte, e opto por uma garrafa pequena.
Quando transferia a água para a garrafa que segue na bicicleta, aparece-me o Daniel com um galão de água! insistindo em “regalar-mo” – deve ter concluído que não o comprei por falta de dinheiro…tive de lhe explicar insistentemente que não tinha espaço, nem necessidade de tanta água! Acedeu quando lhe disse para então me oferecer uma cerveja…
Miramar
Miramar é quase o fim da estrada. A povoação é muito pequena, de casas pequenas, embarcações pequenas, ruas pequenas. Atravessei muito devagar a aldeia e prossegui ao longo da estrada, agora de terra, flanqueada pelo verdejante Caribe. Pensava que tinha deixado para trás a última povoação, os últimos vestígios humanos, mas afinal ainda existe a aldeia de Cuango. Apesar de não vir “nos mapas”, surpreendeu-me por ter um “restaurante” de “comida crioula”e um bar de onde sai música aos berros. Olhando para o restaurante, o apetite tende a esvair-se, mas a curiosidade pela comida crioula leva a melhor. A casa é minúscula, as refeições são servidas na (única) mesa existente, seguramente a mesma onde a numerosa família come…Não é preciso pedir, pois não há escolha. Na enorme malga de sopa de peixe, consigo identificar yuca, cenoura, milho, banana, cebola, tomate e imensos coentros. De aspecto rude, estava deliciosa… o prato seguinte abarrotava de lentilhas guisadas, arroz de coco, patacones (banana verde frita, presumo que com farinha, dando-lhe o aspecto espalmado das pataniscas de… bacalhau!) e carne guisada. O dono – cujo nome esqueci – veio sentar-se à mesa comigo e conversar. Queria saber a minha opinião sobre a exploração mineral na região circundante – parece que há minério de cobre em abundância e discute-se se deve ou não ser explorado. Pena, disse-me, foi não ter aparecido ontem, pois o almoço foi iguana e estava deliciosa…
Estrada de Portobelo a Miramar
De regresso a Miramar, o dono do café, que também alugava quartos, disse-me que devia estar no molhe pelas 7h da manhã, e não 8h, como me tinha recomendado o Raffa. Normalmente acordo cedo, pelo que às 7h lá estava no pequeno molhe. Àquela hora, apenas havia uma barcaça, com ar decadente, no cais. Do seu interior iam saindo dezenas de caixas de cerveja e pepsi e garrafas de gás, vazias, provenientes de San Blas.
Alguns turistas de mochila às costas iam chegando e em breve tomavam uma lancha para San Blas. Eu aguardava especificamente a Yusiel, do Beto Gonzales…o tempo ia decorrendo, turistas chegavam e partiam e eu sentado esperando. O último grupo a chegar era composto por quatro jovens: dois rapazes e duas raparigas. Quando o polícia estava a verificar os respectivos passaportes, algo me sou estranho…talvez o sotaque de um dos rapazes. Pensei que podia ser português mas desisti da ideia ao perceber o interesse dele pela kalashnikov que o polícia tinha a tiracolo. Deduzi que seria russo…Mas continuei intrigado e como não tinha mais que fazer, acerquei-me discretamente até conseguir ouvi-los trocar algumas palavras. Eram mesmo portugueses! De Coimbra, o Francisco, o Frederico e a namorada de um deles, estavam de férias por estas bandas, a caminho de San Blas. Claro que tirámos a foto da praxe, conversámos sobre destinos turísticos menos convencionais, sobre a minha aventura e fizeram-se ao mar, deixando votos de boa viagem e boas pedaladas…
Em Miramar com os manos Gonçalves
Passava das 9h e comecei a impacientar-me, tanto mais que, contrariamente ao que o
Raffa me dissera, ninguém parecia conhecer a lancha Yusiel, nem o capitão Erik – que a pilotaria, nem o Beto Gonzalez, da ilha do elefante… Suspeito que na realidade conheciam os três elementos, mas diziam que não a ver se eu desistia de esperar e ia num dos barcos locais, que estão sempre a tentar angariar clientes, claro.
Telefonei ao Raffa, que me pediu dez minutos para averiguar o que se passava. Pouco depois garantia-me que tudo estava ok, simplesmente atrasados uma a uma hora e meia. Teria apenas de esperar… e com a ligação ao capitão Hernandez, para Cartagena? Para não me preocupar pois também tinha falado com ele e esperaria…
Às dez e meia lá chegou o Yusiel carregado de passageiros provenientes de San Blas. E, em simultâneo, chegou um autocarro com dezenas de turistas para fazerem o percurso inverso…Mulheres primeiro, homens depois e eu e a Dempster em último lugar, lá nos aconchegámos até esgotar a lotação da pequena lancha – na realidade eram duas, pois não cabíamos todos numa só. Sob o sol tórrido das 11 horas, fizemo-nos finalmente ao mar.
Apesar de o mar não estar muito agitado, mal passámos a zona de rebentação e o barco batia com estrondo na água, após cada onda que sulcava. A minha preocupação era principalmente a bicicleta, deitada numa pequena cavidade do barco, ainda por cima com o desviador para baixo…Fui toda a viagem a fazer de mola, para evitar impactos da bicicleta no barco e cheguei à ilha de Porvenir completamente encharcado em suour, água salgada e dores de braços e pernas – estourado – mas a Demspter não tinha sofrido nada!
Não passei muito tempo em San Blass, mas senti que ali o tempo parou. As 375 ilhas parecem nenúfares a boiarem nas águas cristalinas do Caribe. Palmeiras curvilíneas erguem-se acima da linha de água como cabeleiras despenteadas. Canoas escavadas em troncos de árvore, passam lentamente, aparentemente sem rumo nem objectivo. Outras pairam ondulantes, com um ou dois pescadores de pé, lançando uma pequena rede circular, que recolhem passados escassos segundos. Duas crianças seguem-lhes o exemplo, mas com uns metros de linha…lançam o anzol e de imediato, com uma lata, lançam água sobre a água onde o anzol caiu – presumo que para atrair peixe, claro. De quando em vez passa um pequeno barco a motor, numa velocidade alucinante para o ritmo de San Blas.
Em busca do capitão Hernandez, passamos junto à ilha Robinson. Associo-a de imediato a Robinson Crusoe e esquadrinho a costa à espreita do Sexta-feira ou de alguma peugada de Daniel Defoe…mas em vão. Nem a garrafa de vidro com uma folhinha dentro! Claro, o arquipélago Juan Fernando fica no pacífico e muito mais a sul…
San Blass - uma das 375 ilhas
Está um catamaran ancorado a escassas dezenas de metros de uma ilha pequena, onde a areia é mais branca, mais amarela, mais fina, as águas são mais verdes, mais azuis, mais esmeralda, mais turquesa, mais transparentes, mais cálidas, mais quietas. O Beto chama pelo Hernando e aparece um “velho” marinheiro de cabelo longo e barbas desgrenhadas. O Yusiel aproxima-se quase até se tocarem e a Maria surge atrás do capitão, perguntando quem é o responsável por estarem há um dia à espera. Levando o braço e ela abre um sorriso acolhedor e remata se não podia demorar mais um dia ou dois…
A transferência da tralha é rápida e o acolhimento a bordo do Nácar não podia ser melhor. Mal ponho os pés no barco, logo o capitão me diz: alto, nem mãos um passo! a primeira coisa é descalçares as sandálias. Assim faço. Agora vamos amarrar tudo. E amarramos a bicicleta ao “corrimão”, a estibordo, e o atrelado a bombordo. Os sacos vão para dentro… A chatice é que não tenho qualquer protecção para a bicicleta e vai levar com muita água salgada…
Como me senti culpado pelo atraso, disse que estava pronto para partir, mas o “capi” acenou a cabeça e sentenciou: primeiro vais dar um mergulho e tomar banho neste paraíso; depois almoças e depois iniciamos a viagem.
Já anoitecia quando iniciámos a viagem para Cartagena. Como o tempo estava muito mau, deveríamos demorar entre um dia e meio a dois dias. Felizmente foram pouco mais de vinte e quatro horas, que passei deitado de barriga para o ar, depois de ter vomitado o almoço e tudo o que me caia no estômago, incluindo os miseráveis comprimidos para o enjoou…
Parabens por mais esta etapa, nesta grandiosa epopeia!
ResponderEliminarObrigado por nos deixar viajar consigo!
Buon Camino !
HD
Muito boa noite, caro Idílio.O meu nome é Rita Brito, sou estudante universitária no curso de Sociologia e gostava de realizar um trabalho, no âmbito da cadeira Sociologia da Vida Quotidiana, acerca do seu blog, e da sua experiência.
ResponderEliminarGostaria de contactar consigo, a fim de saber se era então possível a sua cooperação no meu trabalho.
Desde já, muito obrigada, e boa viagem!
Rita Brito
ritacameirabrito@gmail.com
Fiquei com a sensação que saltaste por cima da Costa Rica...O Panamá por outro lado está bem vivo com a maravilha do mundo e a capital a sobressairem na tua narrativa, desta vez apreciavelmente longa ;-) Favorito as fotos da pesca do pargo 'rojo' e regalo-me com a vista do paraíso no término deste episódio, antes do barco arrancar. 3 vivas ao o capitão que te ofereceu um pedaço de paraíso antes da tormenta. A preocupação de cumprir metas e objectivos rouba-nos, por vezes, o discernimento para gozar os pequenos paraísos onde nos encontramos. Boa continuação por essa américa do sul.
ResponderEliminarObrigado pela resposta ao meu comentário. Ficarei viajando contigo até o final da sua jornada. :)
ResponderEliminarRafael.
Idílio, no fim da viagem esperamos muito mais mas não no blog: ou com os pés debaixo da mesa como diz o Remígio, ou passando os olhos pelo livro com a ajuda da Marina. abraços
ResponderEliminarIdílio, encontraste o local dos sonhos do Nelson em David e descobriste que até no paraíso se enjoa. Grandes aprendizagens, isso é que é! Vai crescendo a vontade de te ir fazer uma visita à américa :-) muitas saudades
ResponderEliminarCaro amigo, finalmente um "cheirinho" do Atlântico, mas está visto que és mesmo um animal terrestre sem grande vocação marítima. Continua a desfrutar e a partilhar connosco. Um grande abraço, Luís M.
ResponderEliminarIdílio,
ResponderEliminarhá muito que não comento, mas vou sempre lendo os teus relatos..continuam magníficos. Imagino-te também a mudar por dentro, ao sabor da paisagem. Esperamos por ti.
bjinho,
Susana
Da Serra da Sicó, que te viu nascer, um grande abraço para ti grande Idílio por essas terras magníficas.
ResponderEliminarJosé Oliveira
Olá Idílio, nunca pensei "visitar" Cartagena mas estas fotos são fantásticas. Que cores incríveis. Um grande abraço e Boas pedaladas, Mário Bugalhão.
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